Fazendo uso de uma lógica míope, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, classificou de “parte da solução” e “não do problema” a sistemática desvalorização que o real sofreu diante do dólar nos últimos meses. Encontrava-se com capitalistas e autoridades em Sydney, na semana passada, quando lançou essa pérola, provocando ainda mais perplexidade entre os interlocutores. Segundo ele, o ajuste contribuiu para que nossas mercadorias ficassem mais baratas no Exterior e, em contrapartida, encarecessem as importações, inibindo seu fluxo para cá. Tombini confundiu consequência com causa. 

 

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Esqueceu-se de verificar, ou deixou deliberadamente de destacar, que essa solução perversa da desvalorização significou em primeiro lugar uma queda acentuada da credibilidade do País e das apostas de investidores no mercado nacional. A moeda fraca e em queda é o primeiro, se não o mais importante, sintoma do desembarque do capital estrangeiro em uma economia. Atrelada a essa desvalorização deverá vir, em seguida, uma piora da avaliação da saúde do País pelas agências de classificação de risco e, em efeito cascata, o enxugamento das linhas de crédito com reflexos negativos para a produção. 

 

Isso já é esperado e tem sido contabilizado como mais um dos reveses da política monetária. Mas Tombini prefere enxergar o cenário por um ângulo mais azul do que ele se mostra de fato. Em Sydney chegou até a definir como positiva a gradual redução de estímulos financeiros dos EUA, que vinham segurando a cotação do dólar. Em suas reinações, o presidente do BC brasileiro acredita que os dólares estão voltando; que o País está no rumo certo e que não há reparos a fazer na política de ajustes adotada pelo governo. 

 

Tombini, por carreira e opção, é aquele clássico burocrata do BC que evita contato com a realidade e com os empresários e financistas que o cercam e dependem de suas deliberações. Caso fizesse o contrário, e desse ouvido ao mercado, iria facilmente verificar que ninguém concorda com ele na crença de que tudo anda de bem a melhor. Como autoridade monetária que foi pregar em Sydney as vantagens da desvalorização da moeda, mais uma vez Tombini errou feio e mostrou cartas fracas para um jogo de apostas que cada vez mais desconfia da saúde econômica do Brasil.