Por César Souza

No momento em que começa a temporada de planejamento estratégico para os próximos anos, torna-se relevante estarmos atentos para sete tendências que estão se delineando no horizonte empresarial e que de alguma forma impactarão o grau de sucesso do seu negócio:

1. Maior pressão pela rentabilidade do que pelo faturamento. Em tempos de incertezas e taxas de juros ainda elevadas, apesar do seu viés decrescente, mais importante que o faturamento será a geração líquida de caixa e a luta constante para que o retorno do capital empregado (ROIC) seja superior ao custo do capital obtido. Aumento no faturamento deve ser proporcional ao real desenvolvimento da empresa e não apenas ao seu crescimento.

2. Menor imobilização de ativos. As empresas tenderão a ser mais asset light, modelo que visa manter a menor quantidade possível de bens e ativos, investindo apenas no absolutamente necessário para garantir suas operações. Esse movimento se dá de forma ainda mais intensa em momento de custo de capital elevado.

3. “Uberização” no hábito dos consumidores. As pessoas tenderão a valorizar mais o acesso ao uso do que a propriedade de bens e serviços. Mais importante que a posse de um bem será o direito a sua utilização. “Access is beautiful” deverá ser o novo mantra desse viés minimalista.

4. Menos intermediação nas transações. As diversas tecnologias emergentes, incluindo de logística e meios de pagamento, facilitam esse processo de “desintermediação”, que será lento e gradual, porém inexorável em muitos negócios. Uma das práticas que ganha corpo é a chamada BaaS (Banking as a Service) na qual várias empresas aprenderam a capturar uma receita acessória — o excedente financeiro das transações com clientes e fornecedores, que no passado escapuliam pelos dedos e iam parar, sob a forma de taxas de serviços, no caixa dos bancos e instituições financeiras tradicionais.

5. Maior convivência com ecossistemas de startups. A grande variedade de tecnologias emergentes embaladas pela nova onda da Inteligência Artificial, dentre várias outras novidades disruptivas, certamente acelerará a convivência das empresas já estabelecidas com startups inovadoras e desafiadoras dos modelos de negócios tradicionais. Algumas estruturarão seus próprios CVCs (Corporate Venture Capital).

6. Maior pressão pelo ESG. Crescerá a preocupação com o meio ambiente, iniciativas sociais e práticas da boa governança. Teremos mais demanda por energia renovável, produtos mais saudáveis, consumo consciente, distribuição de renda e apoio a comunidades carentes no entorno das fábricas e dos canteiros de infraestrutura. O ESG deverá passar a ser visto como um pilar da cultura das empresas.

7. Maior flexibilidade no ambiente de trabalho. Já estamos trabalhando de qualquer lugar, em qualquer hora e não apenas no horário comercial. Teremos de repensar a ideia de alta performance em equipe, pois a virtualidade das interações se intensificará. Essa transição envolverá alguns desafios tais como o monitoramento do trabalho remoto e o real grau de engajamento dos profissionais com o trabalho e com a produtividade. O individualismo e a dispersão podem crescer, enquanto se esgarça o grau de adesão e comprometimento com a cultura da empresa.

Essa lista não é exaustiva e teremos de estar antenados tanto no front interno quanto com a evolução de conflitos geopolíticos que poderão criar distúrbios no fornecimento e preços de insumos, assim como na exportação de nossos produtos.

O conjunto dessas possibilidades requer uma reflexão estratégica sobre os ajustes necessários no modelo de negócios e de gestão da maioria das empresas. Demanda também pensamento aprofundado sobre o perfil e as competências requeridas dos líderes e gestores, para que estejam mais aptos a enfrentar um cenário bem diferente daquele ao qual tiveram sucesso e se habituaram a operar.