21/02/2022 - 16:32
“Temos de focar no essencial e parar com esse ‘mimimi’ disperso, com coisas irrelevantes lá na empresa!” Com essa colocação, feita em tom veemente, o CEO de um negócio familiar, cujo faturamento beira a casa de R$ 1 bilhão, me revelou uma situação recorrente e bem delicada da empresa em sua visão.
Ele estava empenhado em me contratar para assessorar a diretoria da empresa, cerca de 15 pessoas entre acionistas e principais gerentes, na reunião de fim de ano que se aproximava.
Após ouvi-lo atentamente, sugeri uma conversa individual minha com três ou quatro pessoas, além do seu pai e da sua irmã, para ter um quadro mais completo da situação.
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Após essa rodada inicial de conversas, propus organizar a agenda da reunião da diretoria em torno de sete questões essenciais que necessitam de um alinhamento bem mais profundo que o existente entre acionistas e dirigentes:
- Qual o propósito do negócio e qual o posicionamento desejado pela empresa no mercado?
- Quais clientes queremos servir?
- Quais os resultados quantitativos e qualitativos desejados?
- Quais as competências negociais que precisamos adquirir para ter maior sucesso no futuro?
- Qual a estrutura e equipe que vai se comprometer a entregar os resultados desejados?
- Quais as atitudes que queremos ver praticadas? E quais são inaceitáveis?
- Quais as prioridades imediatas para construirmos um novo patamar para 2025?
Tenho utilizado este framework em diversos trabalhos de Reflexão Estratégica que conduzo com várias empresas de diferentes portes e em diferentes tipos de negócios — industrial, agro, varejo, serviços, tecnologia, logística e saúde, entre outros.
Comecei a formular esse roteiro há cerca de 20 anos, quando entrei como sócio do Monitor Group, consultoria fundada por Michael Porter. Tentava tropicalizar e simplificar ideias e instrumentos, pois, para trabalhar assuntos complexos como a estratégia de uma empresa, não precisamos de ferramentas muito complicadas. Meu lema tem sido “Estratégia pura e simples”. Em tempo: simples, mas não simplória.
Essas questões parecem óbvias, mas têm revelado grandes surpresas. O grau de alinhamento entre os dirigentes nem sempre é razoável e, às vezes, temos a impressão que existem várias “empresas” dentro de uma só, derivada da disparidade de percepções sobre o negócio e a maneira como deve ser conduzido. A consequência das visões divergentes engloba dispersão, bem como desperdício de tempo, energia e recursos financeiros. Além disso, muitas vezes gera conflitos entre sócios e dirigentes.
Comparo essa breve parada para a necessária “Reflexão Estratégica” ao “pit stop” que ocorre em uma corrida de Fórmula 1: a corrida não para, mas piloto e carro precisam de uma breve pausa para ajustes, a fim de aumentar as chances de continuar na competição.
Além do questionamento e reflexão sobre essas sete questões essenciais que podem redirecionar a estratégia, um grande benefício desse fluxo é o compartilhamento dos caminhos alinhados e, consequentemente, maior engajamento e comprometimento com os rumos da empresa.
No ambiente do mundo corporativo em que vivemos, pleno de incertezas sobre o futuro, as empresas precisam alinhar suas respostas de forma contínua, a pelo menos essas sete questões essenciais. Só assim poderão garantir o seu amanhã!
- César Souza é presidente da Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de diversos best sellers e do novo livro “O Jeito de Ser Magalu” (Rocco,2021)