23/10/2002 - 7:00
No dia 3 de outubro, às vésperas da eleição, o ex-governador Orestes Quércia pediu que cancelassem todos os compromissos de sua campanha ao Senado. Tirou a jaqueta de couro, que se tornou uma espécie de uniforme de campanha, e vestiu gravata e paletó. A seguir, foi para o banco BCN e assinou o contrato de compra da Panamby Participações, dona de 30% do Centro Empresarial de São Paulo, um imenso
conjunto de sete blocos de escritórios localizado às margens
do rio Pinheiros, na região sul de São Paulo. Além de ser o maior investidor individual do empreendimento, a Panamby é responsável pela administração daquele que é um dos mais tradicionais endereços empresariais da cidade. Trata-se de uma pequena cidade. Em seus 410 mil m2 de área, estão abrigadas empresas como American Express, Rhodia, Unilever e Procter & Gamble. Cerca de 23 mil pessoas circulam por lá, entre funcionários e visitantes. A cada dia, o Cenesp, como é chamado, recebe em suas ruas e estacionamentos quase 10 mil veículos.
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Aluguel certo: Rhodia e Procter são inquilinos do Cenesp |
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Para se tornar acionista desse colosso, Quércia, através de sua holding
imobiliária Sol Invest, pagou R$ 58 milhões
ao grupo Bunge, até então dono da Panamby. Focados no negócio de grãos e fertilizantes, os argentinos da Bunge resolveram abrir mão de sua atividade imobiliária e promoveram uma espécie de concorrência. Quércia foi o vencedor, mas não desembolsou o dinheiro. Os recursos vieram do BCN, em uma operação de financiamento de cinco anos. A garantia vem das prestações que Quércia recebe em função da venda do jornal
Diário Popular para a Globo. O ex-governador assumiu uma
empresa com faturamento anual de R$ 19 milhões, lucro de R$ 10 milhões e diversos planos de expansão — a reforma e modernização do centro de convenções de 3 mil m2, hoje desativado e a construção de um hotel.
O investimento em imóveis é um dos focos do Quércia empresário. Dono de shopping centers e flats no interior de São Paulo, ele adquiriu o Hotel Jaraguá, tradicional ponto do centro da capital paulista, e o está transformando em pólo de negócios com 415 apartamentos, teatro, centro de convenções e restaurantes. Além disso, Quércia possui um grupo de comunicação, formado por estações de rádio, jornais e emissoras de tevê. É justamente nesse setor que deverão ocorrer suas novas investidas no mundo corporativo. Novas emissoras e um jornal impresso estariam em seu foco. Por mais que crie músculos em seu braço empresarial, Quércia não perde um antigo traço, a superstição. Ele não gosta, por exemplo, do número quatro. O preço do Cenesp foi estabelecido em R$ 58 milhões. A soma dos dois algarismos é 13. Nova soma (1+3), e o resultado é o fatídico quatro. Ao perceber isso, o ex-governador aumentou o valor em R$ 100, apenas para desfazer a perigosa combinação numérica.