O surgimento do setor de tecnologia financeira, ou as fintechs como são mais conhecidas, tem proporcionado uma verdadeira revolução na relação dos clientes com os serviços financeiros. Não é para menos, pois essas startups aproveitaram muito bem a expansão da mobilidade para oferecer canais digitais que possibilitam movimentar dinheiro em conta, pagar uma conta ou mesmo fazer investimentos de forma segura e conectados na internet para o desespero das instituições bancárias tradicionais. Diante de tudo isso, houve uma explosão do número de empresas que oferecem algum tipo de serviço do gênero em todo o mundo. E, claro, o mercado nacional seguiu essa tendência de crescimento.

Prova de todo esse contexto está no aumento do número de fintechs nos últimos 10 meses, que alcançou 33,33%. O levantamento Radar Fintechlab mostra que a quantidade de iniciativas de eficiência financeira com uso de tecnologias em atuação no Brasil saltou de 453 em agosto do ano passado para 604 no início de junho de 2019. Os consumidores incentivaram essa grande alta, pois deixaram a desconfiança de lado, ao interagirem com os aplicativos de pagamento online, os protocolos de segurança aprimorados, a inteligência artificial (IA, em inglês), o aprendizado de máquina e o blockchain.

Por conta da comodidade e da segurança das transações online, essas atividades financeiras eletrônicas caíram definitivamente no gosto dos brasileiros. Por outro lado, modificou completamente o relacionamento dos clientes em relação aos bancos, varejistas e outros negócios como as agências de investimentos. Por essas e outras, as transformações no ramo das fintechs só começaram e não existe uma previsão para isso acabar tão cedo.

Até aqui tudo bem, no entanto, não se abordou nenhuma novidade sobre o assunto. O movimento no mercado financeiro é de conhecimento de todos já que essas startups vieram para ficar porque se mostraram eficientes para os consumidores. Mas abordar todo o retrospecto próspero e promissor se mostra necessário até para entender melhor o que vem pela frente. Outras mudanças estão para chegar e atingir em cheio o segmento.

É importante ressaltar que o mercado das fintechs deve ser dividido em importantes ciclos. Essas fases abrangem o justamente o surgimento dessas iniciativas, a expansão delas no mercado e as tendências para o futuro próximo. Atualmente, o setor ainda vive o que costumo chamar de primeira onda, pois trata-se exatamente desse verdadeiro boom, com a aparição em grande número. Porém, a maioria delas é de pequeno porte e, por isso, pequenas entre si, apesar de oferecerem excelente serviço conforme sua proposta inicial.

Mas aos poucos, as startups começam a entrar no que considero a segunda onda do ramo. Essa etapa será marcada, sobretudo, pelas fusões e aquisições. É um caminho natural porque as fintechs já existentes atuam apenas em um determinado nicho do mercado com uma única solução. Sim, elas resolvem muito bem a vida do consumidor somente com um serviço, ao contrário dos bancos. As instituições tradicionais oferecem diversos produtos capazes de solucionar todas as demandas financeiras da pessoa.

Na prática, o consumidor precisaria contar hoje com o apoio de várias fintechs para gerenciar todos os seus serviços financeiros. Por esse motivo, o segmento já está atento a isso e deve começar a se movimentar em direção a duas alternativas. Em uma delas, as iniciativas menores farão fusões entre si como forma de criar uma sinergia de soluções que se completem entre si para ganhar ainda mais mercado. A outra opção será por meio das aquisições a serem comandadas por fintechs de grande porte e bem consolidadas no ramo.

Pois bem, tudo isso pode parecer um exercício de futurologia, mas o mercado internacional já aponta o início da segunda onda desde o começo deste ano. Nos Estados Unidos por exemplo, a Paid, de São Francisco, comprou a Quova (Nova York) por US$ 200 milhões. Ambas atuam na criação de plataformas que conectam bancos a aplicativos de tecnologia financeira.

Após as fusões e aquisições, as fintechs terão que passar por um amadurecimento com a finalidade de consolidar as suas operações. Dessa forma, elas entrarão na terceira onda, onde precisarão lidar com algumas dificuldades até então inimagináveis na realidade das startups. Uma delas é obter conceitos de governança corporativa para se estruturar e não atingir um crescimento de forma desgovernada e sem processos estruturados.

Além disso, essas fintechs precisarão de conhecimentos e, acima de tudo, entender o mercado de ações. Essas informações serão necessárias porque muitas delas serão adquiridas exatamente por empresas com capital aberto. Consequentemente, também passarão pelos processos de IPO. Antes isso era algo que essas iniciativas nem sonhavam. Passadas as tais fases, a expectativa é de que o setor estará mais concentrado.

A pergunta agora é quem vai balançar e se destacar nesse setor em meio às três ondas das fintechs no país? O C6 Bank é uma forte candidata para ocupar esse posto, dada a experiência dos seus sócios em todos os quesitos previstos nas fases de transformações desse mercado. Nessa lista, estão as experiências em governança corporativa e no mercado de fusões, de aquisições e de capitais. Minha aposta já está lançada. Resta agora só saber se ganharia dinheiro nessa escolha como apostador.

Eduardo Canova é CEO da fintech Leoa e ex assessor de investimentos da XP