11/07/2014 - 20:00
Na quarta-feira 16, a bola volta a rolar nas novas arenas brasileiras. Teremos conforto padrão Fifa e um torneio… Bem, o torneio será padrão CBF. Cadeiras vazias, jogos modorrentos e atletas de qualidade técnica discutível usando camisas ainda respeitadas, mas apenas pelo que fizeram no passado. Na tevê, a audiência será baixa – aumentando à medida que a ressaca da Copa do Mundo for passando. Retornaremos ao Brasileirão, o campeonato de clubes que mexe com as paixões do país do futebol, mas que o mundo ignora.
As enormes audiências globais que se conectaram ao Brasil no último mês e vibraram com a magia do esporte em templos sagrados como o Maracanã simplesmente desviarão seus olhares para outros cantos do mundo. Depois da Copa das Copas, seremos outra vez apenas uma memória para os estrangeiros amantes do esporte? Ou, para ser mais preciso, de um enorme contingente de consumidores do negócio chamado futebol? Com a Copa no Brasil, os gestores do futebol brasileiro desperdiçaram uma oportunidade única de expor seu produto numa vitrine que dificilmente se abrirá tão cedo para eles outra vez.
Vamos ignorar aqui o vexatório desempenho da equipe nacional. É fato que a humilhante derrota brasileira para os alemães não ajuda, mas, certamente, não podemos atribuir a ela o fato de que, além de uns poucos craques, nada do que sai regularmente dos estádios brasileiros é vislumbrado como mercadoria de primeira no grande bazar global do esporte. O Campeonato Brasileiro, com marcas de expressão como Flamengo, Corinthians, Santos, Botafogo, Palmeiras, entre outras, é artigo para consumo doméstico.
Raramente é transmitido em canais esportivos de outros países, o que seria fundamental para que os clubes pudessem fazer contratos de patrocínios mais valiosos, vender produtos licenciados, ampliar suas receitas e, por consequência, produzir e reter jogadores mais qualificados. Repete-se, no mercado do futebol, um modelo de negócios enfrentado por uma série de outros segmentos econômicos deficitários em sua balança comercial com o Exterior. Nossas emissoras de tevê importam muito.
É possível assistir regularmente por aqui jogos de todas as nove principais ligas europeias de futebol – pela ordem de valor de mercado, segundo a Pluri Consultoria: Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, França, Rússia, Turquia, Portugal e Ucrânia. É mais fácil para um garoto carioca apontar um craque do Shakhtar, da liga ucraniana, do que um jovem de Donetsk identificar um do Fluminense. Isso tem seu preço: nosso campeonato, segundo a Pluri, vale menos do que o deles.
Seria apenas o décimo do mundo, com o valor de mercado somado dos 20 clubes da série A na faixa de e 673 milhões, cerca de e 15 milhões a menos que o “ucranianão”. E estamos em queda. O resultado apurado este ano foi 28% inferior ao do ano passado. “Vivemos um período de desvalorização nítida de nossos jogadores”, explica o economista Fernando Ferreira, sócio da Pluri. “Isso tem várias explicações, mas uma das mais evidentes está no organograma dos clubes: faltam executivos e gestores profissionais.” De fato, nos mercados globais não há espaço para amadorismo.
Neles, jogadores jovens, mal saídos de categorias inferiores, são commodities. Enquanto basearem suas receitas nesse tipo de produto, nossos clubes verão suas marcas se depreciar. E sofrerão com o avanço dos emergentes da bola. Com estratégia e eficiência, os Estados Unidos avançam e projetam colocar sua liga entre as três mais valiosas até 2022. A China, que há três anos não aparecia entre as 60 maiores, avançou 55% entre 2013 e 2014, já ocupa a 25ª posição e espera, em cinco anos, ser uma top 10. O jogo, portanto, está ficando cada vez mais pesado. É hora de jogar sério.