O empresário José Auriemo Neto ? ou simplesmente Zeco, como prefere ser chamado ? é avesso a holofotes, procura falar pouco de sua vida pessoal e foge de uma fotografia como o diabo foge da cruz. Mas não há como desviar as atenções para outro lado. Desde 2003 no comando da JHSF, empresa com tentáculos espalhados em várias áreas da construção, faturamento de R$ 156 milhões no primeiro semestre deste ano e ativos da ordem de R$ 1 bilhão, Zeco, de apenas 31 anos, fez uma revolução nos negócios da família. Entrou como um furacão no universo do luxo ao anunciar a criação do complexo Cidade Jardim, um audacioso empreendimento que engloba nove torres residenciais, três prédios comerciais, shopping com as principais grifes internacionais e hotel em uma área de 80 mil metros quadrados às margens da Marginal do Rio Pinheiros. Ganhou fama ao comprar 50,1% dos hotéis Fasano, anunciou a criação de novos shopping centers voltados para a população de poder aquisitivo mais baixo, abriu o capital da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo, em abril de 2007 e, para 2008, prepara o lançamento de uma minicidade. ?O projeto se chamará Dona Catarina, terá sete mil unidades residenciais, centro comercial e escolas em uma área de 7 milhões de metros quadrados a 30 minutos de São Paulo?, revelou Auriemo à DINHEIRO. O local do empreendimento ainda é guardado sob sigilo, mas sabe-se que será voltado ao público de classe média. ?Estamos de olho na expansão do crédito?, diz José Auriemo Neto.

Apesar de as grifes de luxo proporcionarem maior visibilidade à empresa, o grupo tem mostrado que joga em todas as frentes. Isso acontece porque a empresa foi dividida em quatro áreas: incorporação imobiliária, edifícios de escritórios, hotelaria e shopping centers. ?A velocidade de crescimento do grupo é o que chama atenção?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria & Conhecimento. No braço de incorporação imobiliária, o JHSF tem desde projetos para a classe média como condomínios fechados de alto padrão. É de olho nesse nicho que surgiu a parceria com o Fasano. ?Nos associamos ao Fasano porque o mercado imobiliário está convergindo com serviços de hotelaria?, diz Auriemo.

Foi uma escolha certeira. ?Fasano é uma marca muito forte que empresta tradição, segurança e modernidade?, avalia David Laloum, diretor-geral de planejamento da agência Young & Rubicam. Em resumo: o hotel torna-se âncora de projetos imobiliários emprestando seu prestígio e oferecendo seus serviços. Isso já pode ser visto nos novos projetos da rede Fasano. Além do hotel nos Jardins, do novo empreendimento no Rio de Janeiro e do futuro Fasano no complexo Cidade Jardim, o JHSF anunciou a abertura de um Fasano em Punta del Leste, no Uruguai, e outro em Porto Feliz, a 100 quilômetros de São Paulo, onde será o condomínio Fazenda Boa Vista. Em Punta del Leste, serão construídas 500 casas em uma área de 4,5 milhões de metros quadrados.

No Boa Vista, em Porto Feliz, onde será inaugurado o primeiro hotel fazenda do grupo, o projeto é inovador. Haverá 100 residências de 600 m4 a 1 mil m2 em terrenos que variam de 3 mil m2 a 5 mil m2. Todas as casas levarão a assinatura de arquitetos pré-definidos como Marcos Tomanik, Márcio Kogan, Erick Figueira de Mello, Thiago Bernardes, Paulo Jacobsen, Cândida Tabet e os americanos Cooper & Robertson ? tudo para manter a harmonia arquitetônica do lugar. ?Serão casas exclusivas e rústicas?, diz Auriemo. O hotel fazenda do Fasano também será exclusivo. Somente 28 suítes foram projetadas pelo arquiteto Isay Weinfeld e, logo ao lado do hotel, será erguida a Villa Fasano, um conjunto de 45 casas que variam de 280 m2 a 420 m2 e não sairão por menos de R$ 1,6 milhão cada. Quem prefere mais espaço pode optar pelas estâncias, terrenos com até 40 mil m2 avaliados em R$ 8 milhões. No projeto, que será inaugurado em novembro de 2008, há ainda a previsão de dois campos de golfe e uma fazendinha com animais.

A tática de juntar várias unidades de negócios em um só empreendimento é uma aposta que tem tudo para render bons frutos para o JHSF. Nesse sentido, o complexo Cidade Jardim é a menina-dos-olhos. Ali, estarão concentrados os imóveis comerciais, os residenciais, o shopping e o hotel. Para ter uma idéia os apartamentos, com metragens que variam de 236 m2 a 1,7 mil m2, custarão de R$ 1,8 milhão até R$ 10 milhões. No shopping Cidade Jardim, o grande desafio de Zeco será dividir o público consumidor da região com outros empreendimentos próximos dali. Do outro lado da Marginal do rio Pinheiros, encontra-se a Daslu e, em breve, o grupo Iguatemi erguerá um shopping em parceria com a WTorre Empreendimentos onde também haverá hotel e escritórios comerciais. Há ainda um projeto dos grupos Multiplan e Plaza para construir um outro shopping na Vila Olímpia ? o mesmo centro de consumo. ?Estamos no Morumbi, o bairro que mais cresce em São Paulo e há uma demanda muito grande?, diz Auriemo. ?O fato de estarmos do outro lado da Marginal e termos o rio como barreira também ajuda.? Pelo sim, pelo não, Auriemo preferiu se garantir e uniu forças com a Daslu. ?Teremos uma loja da grife Daslu com 1,5 mil m2 e ainda vamos abrir outras três lojas nos futuros shopping centers do grupo em outras cidades?, disse Eliana Tranchesi, a dona da Daslu, à DINHEIRO. Por que optou pelo JHSF? ?Sei que trabalham sério.?

A questão é saber até onde o grupo JHSF consegue expandir seus negócios no setor de alta renda. No mercado, comenta-se que, em São Paulo, restam poucos terrenos disponíveis e esse nicho está com os dias contados. ?Em três anos, esse mercado de alto luxo estará saturado?, diz João Claudio Robusti, presidente do Sinduscon de São Paulo. O apetite do grupo, contudo, continua voraz. Fontes do setor imobiliário garantem que o JHSF comprou a área onde está o Café Photo, casa de garotas de programa de alto nível próximo ao parque do Ibirapuera, para erguer três torres residenciais. Auriemo não confirma, mas o negócio é dado como certo. Ao mesmo tempo que busca áreas apropriadas para projetos de alto padrão, uma equipe de análise da JHSF mira no mercado de classe média. Afinal, a oferta de crédito tende a crescer e há uma demanda reprimida por residências mais baratas. ?Dizem que estamos vivendo um boom imobiliário?, diz Robusti, do Sinduscon.

 

Estamos longe disso, o crédito imobiliário representa 3,7% em relação ao PIB brasileiro. No Chile, é 17% e, na Espanha, é 44%.? Há, portanto, muito espaço para crescer.

O mercado de shopping centers também tem um potencial muito grande. Além de projetos no segmento premium, o JHSF é dono do shopping Metrô Santa Cruz e, em 2008, vai inaugurar o shopping Metrô Tucuruvi, também em São Paulo, que terá 44 mil m2 e receberá 120 mil pessoas por dia. ?Temos uma boa perspectiva com vários lançamentos?, diz Eduardo Câmara, vice-presidente e responsável pela relação com os investidores do JHSF. Aliás, esse é um ponto crucial para o grupo. O JHSF abriu capital no dia 11 de abril deste ano com ações avaliadas em R$ 8 e captou R$ 432 milhões. O pico chegou a R$ 12,55 no dia 10 de agosto e, na última sexta-feira, o papel bateu em R$ 8,17. Em outubro, a média de ações negociadas foi de R$ 1,5 milhão, número considerado baixo pelo mercado. ?Ela ainda precisa se firmar na Bolsa e mostrar liqüidez?, diz Ricardo Tadeu Martins, gerente de análise da Planner Corretora. Para efeitos de comparação, nos últimos 30 dias a construtora MRV movimentou uma média diária de R$ 14,7 milhões e a Gafisa de R$ 33,7 milhões. ?Estamos nos apresentando para bancos de investimentos fora do País?, diz Câmara. ?Na medida em que a empresa se tornar mais conhecida, aumentará a liquidez.?

PUJANÇA R$ 1 BILHÃO é o total de ativos do JHSF. No primeiro semestre, ele faturou R$ 156 milhões

Mas n ão basta só isso. ?Se eles entragarem o que prometerem ganharão mais confiança?, diz Tadeu, da Planner. Até agora, ao que parece, a lição de casa está sendo feita da forma correta.