28/05/2010 - 6:00
Nos últimos dois anos, desde que vendeu a divisão de vale-refeição e alimentação para a francesa Sodexo por R$ 1,03 bilhão, o empresário Abram Szajman, de 71 anos, controlador do Grupo VR e presidente da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio), se manteve longe do dia a dia de sua empresa.
“Como um bom judeu, não gosto de manter todos os ovos numa mesma cesta”
Cláudio Szajman, presidente do Grupo VR
Ele usou esse período para se dedicar à Fecomercio e atuar nos bastidores, junto com os filhos Cláudio, 41 anos, e André, 39 anos, para traçar a estratégia de diversificação de seus negócios. Mas esse retiro está com os dias contados. A família tem atacado nas mais diferentes áreas de atuação.
Recentemente, os Szajman compraram uma participação na Yuny Incorporadora, empresa que deve apresentar um Valor Geral de Vendas de R$ 1,9 bilhão. Ao mesmo tempo, investiu R$ 60 milhões em um novo produto voltado para o mercado de meio de pagamentos. Mais: a VR acaba de pedir autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para criar o VR Capitals.
Sob a bênção do patriarca: apesar de ter passado o bastão para os filhos, Abram Szajman
ainda acompanha os negócios e dá a última palavra em questões estratégicas
Trata-se de um fundo de private equity para investir em em presas embrionárias com grande potencial de crescimento. O grupo também pretende atuar na administração de grandes fortunas de terceiros. Mas será que um intensivo processo de diversificação não pode enfraquecer a VR? ?Todas as nossas iniciativas são baseadas no plano de metas.
Como bons judeus, não gostamos de manter nossos ovos em uma única cesta?, diz Cláudio Szajman, presidente do Grupo VR, à DINHEIRO. ?Não falta foco para os nossos gestores?, explica ele, que, desde 2006, divide seu tempo entre Nova York, onde mora com a família, e São Paulo, onde fica a sede da VR. Especialistas, entretanto, enxergam a estratégia com um certo ceticismo. ?Diversificar o dinheiro, tudo bem.
O problema é como gerenciar com eficiência tantas áreas ao mesmo tempo?, pondera Álvaro Musa, sócio-diretor da consultoria Partner Conhecimento. Os Szajman sabem disso e têm buscado os parceiros com experiência nas áreas escolhidas para os novos negócios. A Yuny se encaixa nesse perfil.
Inovação: o VR BEN nasce de olho no programa de recompensa das empresas. O chip instalado em
cartões ou pulseiras (esq.) garantirá o acesso a baladas, livrarias e academias
Criada em 1996, ela é especializada em imóveis comerciais e residenciais de alto padrão e a associação com o VR vai fortalecer ainda mais a empresa comandada por Marcelo Yunes. O primeiro empreendimento dessa nova fase será na região da avenida Luís Carlos Berrini, na zona sul da cidade de São Paulo. Lá, serão erguidos uma torre de escritório e um shopping center em um terreno de propriedade da VR. Outro shopping deverá ser construído no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade. Com a bênção dos Szajman, a Yuny também deverá prospectar oportunidades no mercado carioca. ?Gostamos de fazer apostas de longo prazo e em segmentos tradicionais da economia, a exemplo do financista americano Warren Buffett,? diz Cláudio Szajman.
A família Szajman não poderia ter escolhido melhor momento para investir na construção civil. Passado o efeito da crise econômica global, as perspectivas são excepcionais. O setor deverá crescer na faixa de 9% neste ano, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP).
?A melhor forma de entrar na área da construção civil é se associando a quem já possui uma história,? opina Eduardo Zaidan, diretor de economia do Sinduscon-SP. ?A VR tomou a decisão correta porque escolheu uma companhia com grande potencial.? Mas o plano estratégico desenhado pela família Szajman, com o suporte da consultoria americana McKinsey, vai muito além de tijolo, areia e cimento. Para atingir a ambiciosa meta de dobrar, até 2014, o faturamento estimado pelo mercado em R$ 300 milhões, o primogênito do clã conta com outros trunfos.
Um deles é a aposta na chamada ?prata da casa?, a divisão SmartNet, especializada em serviços e tecnologia no mercado de meios de pagamento de benefícios alimentação e refeição. Seus terminais são responsáveis pelo processamento de 700 milhões de transações que rendem cerca de R$ 250 milhões por ano ao grupo, fazendo da SmartNet uma força emergente em um setor dominado por gigantes do porte de Cielo e RedeCard.
?Para crescer nessa área é preciso investir em inovação?, opina Musa. Por isso mesmo, a empresa acaba de dar os retoques finais no VR BEN, produto que nasce com a ambição de revolucionar os tradicionais programas de pontos utilizados por grandes companhias para fidelizar clientes.
Para estruturar a plataforma, o grupo VR investiu R$ 60 milhões e mobilizou 220 pessoas. O serviço consiste no credenciamento de atividades como academias de ginástica, cinemas, teatros e boates. O acesso a esses locais seria garantido por um chip instalado em uma pulseira ou em um cartão com validade predeterminada. A meta é conquistar cinco milhões de usuários em três anos e cobrir 25 mil estabelecimentos. ?Será uma ferramenta para estreitar o relacionamento entre as empresas e seus clientes?, aposta o empresário.