22/01/2021 - 10:19
A Ásia, reforçada por sua luta contra a covid-19, enquanto os Estados Unidos vivem uma transição, chega com força no Fórum Econômico Mundial, que abandona este ano a neve de Davos e opta por um formato totalmente virtual.
Na última edição de 2020, a elite mundial começava a se preocupar com o surgimento de uma epidemia misteriosa na China, embora tenha dedicado mais interesse ao confronto à distância entre Donald Trump e Greta Thunberg.
Nos meses seguintes, a pandemia devastou economias, deixando milhões de pessoas desempregadas, mas o continente asiático já mostra uma recuperação notável, às vésperas desta edição de 2021, que acontece de segunda a sexta-feira com o tema “Um ano crucial para reconstruir a confiança”.
O astro convidado será o presidente chinês Xi Jinping, que fará o discurso de abertura na segunda-feira.
A Europa estará presente através do presidente francês, Emmanuel Macron, da chanceler alemã, Angela Merkel, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A nova gestão de Joe Biden decidiu voltar ao multilateralismo, embora isso não aconteça por meio de Davos, evento que os inquilinos da Casa Branca tendem a evitar.
Donald Trump foi uma exceção, pois compareceu duas vezes ao fórum, sentindo-se confortável neste mundo de empresários. Antes dele, apenas um presidente viajou a Davos, e apenas uma vez: Bill Clinton.
Além do presidente chinês, a Ásia será representada pelo presidente sul-coreano e pelos primeiros-ministros indiano e japonês.
Depois desta primeira sessão virtual, “Davos” viajará para Singapura em maio, longe da estação de esqui suíça onde costuma ser realizado desde que foi criado 1971 pelo professor alemão Klaus Schwab.
O motivo alegado é a “segurança sanitária”, já que a cidade-Estado asiática registra apenas 29 mortes por covid, e é considerada mais segura que Genebra, que também foi pré-selecionada como alternativa possível.
O fato é que será difícil para os organizadores do Fórum Econômico Mundial passar para uma fase totalmente virtual. Para os grandes empresários que pagam milhares de euros pela participação no fórum, o interesse está menos na programação oficial do que nos negócios concluídos nos corredores dos hotéis de luxo.
De acordo com um estudo da seguradora Euler Hermès publicado esta semana, desde 2002 “o centro de gravidade econômico do mundo” gradualmente mudou para a Ásia.
Agora, a pandemia de covid-19 deve acelerar esse movimento: os economistas preveem que o PIB chinês vai se igualar ao dos Estados Unidos em 2030, dois anos antes do esperado antes da crise.
Xi Jinping já havia subido à tribuna de Davos em 2017 e, para grande alegria de um público dedicado à causa, tornou-se então um campeão do livre comércio diante das tentações protecionistas de Donald Trump.
Isso aconteceu pouco antes da posse do bilionário republicano e da saída de Joe Biden, então vice-presidente de Barack Obama.
Desta vez, os Estados Unidos serão representados por John Kerry, enviado especial para o clima, que sem dúvida será bem recebido após a decisão do novo presidente democrata de reintegrar seu país ao acordo de Paris.
“Promover um novo contrato social”, “repensar o consumo em favor de um futuro sustentável”, “construir uma economia positiva para a natureza”: os títulos das oficinas do Fórum trazem, também este ano, reminiscências dignas de Porto Alegre, cidade que sediou entre 2001 e 2005 o “Fórum Social Mundial”, uma espécie de contra-Davos.
Em um artigo postado no site Project Syndicate em meados de janeiro, Klaus Schwab pediu “repensar o capitalismo” à luz de uma pandemia que “exacerbou as desigualdades”.
Por sua vez, a ONG Oxfam, no seu habitual apelo à ordem à elite de Davos, publicará na segunda-feira o seu tradicional relatório sobre as diferenças de riqueza no mundo.