Mudanças à vista na quinta maior empresa de calçados do mundo: a Azaléia está costurando os detalhes finais de uma ousada estratégia de expansão de suas operações. O plano inclui uma reestruturação interna e um acordo com a Asics Corporation para a fabricação dos produtos da marca japonesa no Brasil. Nas últimas semanas, executivos da Azaléia, com sede no Rio Grande do Sul, vêm negociando com os governos gaúcho e sergipano a instalação de uma nova fábrica, que terá cerca de 600 funcionários. Será a quinta unidade da empresa brasileira, responsável também pela produção de calçados e roupas das marcas Olympikus e Dijean, além, é claro, dos artigos da grife Azaléia.
?A experiência de 40 anos da Azaléia combinada com nossas inovações criarão uma parceria dinâmica?, afirmou Richard Bourne, presidente da Asics. Procurada, a fabricante brasileira não quis comentar o assunto. O que se sabe é que o contrato inclui o licenciamento, assistência técnica e distribuição de roupas e calçados esportivos da multinacional.

O casamento está em sintonia com as ambições da fabricante gaúcha. Para a Azaléia, criada em 1958 dentro de um galpão alugado, a Asics reforça a participação no mercado internacional de artigos esportivos. A empresa, dona de um faturamento de
R$ 720 milhões este ano, já exporta um quinto dos 50 milhões de pares de calçados produzidos por ano para 60 países. Com a tecnologia e o nome Asics, a brasileira quer aumentar sua fatia no segmento de artigos ?premium?, mais sofisticados. A previsão é que esses produtos rendam R$ 50 milhões nos próximos dois anos. A Asics também sai em vantagem na empreitada. Criada em 1949 no
Japão, a empresa já chegou a ser uma das principais marcas mundiais no segmento esportivo. Ganhou fama entre atletas de todo o mundo por conta da tradição na fabricação de tênis com tecnologia de ponta. Nos últimos anos, porém, a falta de ousadia na expansão dos negócios e no marketing fez com que a marca
cedesse espaço para rivais como a gigante Nike. Agora, a Asics, que fatura US$ 1,5 bilhão por ano, tenta virar o jogo. No front do marketing, os japoneses apostam em personalidades como a cantora teen Britney Spears para dar um ar mais jovem aos produtos. Ao mesmo tempo, os japoneses querem acelerar a expansão. E o Brasil é uma das plataformas.

Novo sócio. A relação da Asics com o mercado brasileiro não é de agora. Durante mais de uma década, os produtos da empresa estavam nas mãos da Cambuci, dona da marca Pênalti, que produzia e distribuía os artigos no País. O contrato expirou há sete meses e não foi renovado por conta de divergências em dois pontos: na negociação dos royalties pagos à Cambuci e no tamanho da produção comandada pelos brasileiros. Com a brecha deixada pela rival, a Azaléia convenceu os japoneses. Enquanto fazem o leilão fiscal para escolher a sede da nova fábrica, os executivos da Azaléia trabalham a todo vapor em um processo de reestruturação. Como a empresa abriu o capital em abril deste ano, o plano será enviado para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos próximos dias. Entre as diretrizes, está o desmembramento da planta de Sergipe em nove unidades. A idéia é construir, até outubro de 2002, fábricas de menor porte que seriam espécies de ?satélites? atreladas a uma unidade maior, de 18 mil metros quadrados. O Estado nordestino poderá servir de ?piloto? para experiências semelhantes em outros locais. Resta saber se tanta mudança será suficiente para driblar o desaquecimento da economia em 2002.