23/02/2023 - 14:40
A Assembleia Geral da ONU planeja votar nesta quinta-feira (23) uma resolução que reivindica a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia, uma medida para a qual Kiev e seus aliados esperam reunir o maior apoio possível no aniversário de um ano da invasão.
“Em um ano, não deveríamos voltar a nos encontrar pelo segundo aniversário desta absurda guerra de agressão”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi.
Em vez disso, ele espera uma “cúpula para a paz” em 2024.
Mas a “Rússia não mostra nenhum desejo de paz (…) A única coisa que conhece de paz é o silêncio dos mortos e das ruínas”, retrucou sua contraparte francesa, Catherine Colonna.
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“A Rússia tenta convencer alguns de vocês de que suas tentativas de reverter a ordem mundial e impor uma ordem baseada na força podem jogar a seu favor. É uma ilusão”, alertou, acrescentando sua voz a dezenas de Estados que pedem apoio à resolução, que será votada ao final dos discursos desta quinta.
“É um momento decisivo para mostrar apoio, unidade e solidariedade”, disse da tribuna na quarta-feira (22), primeiro de dois dias de debates, o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba.
“Nunca na história recente a linha entre o bem e o mal foi tão clara. Um país simplesmente quer sobreviver. O outro quer matar e destruir”, acrescentou.
A Ucrânia e seus aliados esperam que o texto obtenha pelo menos os 143 votos reunidos em outubro com a resolução que condena as anexações de vários territórios ucranianos por parte da Rússia.
Embora esta resolução seja, sobretudo, “simbólica”, diz Richard Gowan, analista do International Crisis Group, ela também pretende deixar claro o isolamento da Rússia, “ao minar as pretensões do [presidente Vladimir] Putin de liderar uma grande coalizão antiocidental” nesta instância da organização.
Como nas resoluções anteriores, nenhuma delas vinculante, o projeto de resolução reitera o “compromisso” com a “integridade territorial” da Ucrânia e “exige” que a Rússia “retire imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas” — uma referência aos territórios anexados pela Rússia.
O texto patrocinado por dezenas de países também pede “o fim das hostilidades” e “enfatiza a necessidade de se alcançar o mais rápido possível uma paz geral, justa e duradoura na Ucrânia, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”.
Reminiscências da Guerra Fria
“Esta votação ficará para a História”, disse a embaixadora americana na Casa, Linda Thomas-Greenfield, que pediu o voto contra as emendas “hostis” apresentadas por Belarus, aliado de Moscou.
Essas emendas pedem “o início imediato das negociações de paz”, removem referências a uma agressão russa e à exigência de retirada de forças de Moscou, e exortam os Estados-membros a “se absterem de enviar armas para a zona de conflito”.
Na quarta-feira, na abertura desta sessão especial, o secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou “a afronta à consciência colectiva” representada pela invasão da Ucrânia, e alertou para as “ameaças implícitas” de se recorrer a armas nucleares e a “atividades irresponsáveis” em torno de usinas nucleares.
Esta semana, porém, Putin garantiu que continuará, “metodicamente”, sua ofensiva na Ucrânia, em um discurso contra o Ocidente que lembra a retórica da Guerra Fria.
Na ONU, o embaixador russo, Vassili Nebenzia, argumentou que o Ocidente está tentando “infligir uma derrota à Rússia”, mesmo ao preço de “arrastar o mundo inteiro para o abismo da guerra”.
As três resoluções ligadas à agressão russa votadas pela Assembleia Geral há um ano receberam entre 140 e 143 votos a favor, com cinco países sistematicamente contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e menos de 40 abstenções.
Uma quarta resolução um pouco diferente, em abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, obteve 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções.
Na sexta-feira (24), o Conselho de Segurança marcará o aniversário da invasão com uma reunião ministerial na presença, entre outros, do secretário de Estado americano, Antony Blinken.
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