Uma das maiores empresas de automação comercial do Brasil nasceu em uma incubadora. Presente em mais de 400 mil pontos de venda e dona de um faturamento anual de R$ 350 milhões, a Bematech – que abriu seu capital em 2007 – deve parte de seu sucesso a uma base sólida erguida com o auxílio dos pesquisadores do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). 

No fim da década de 1980, os sócios Wolney Betiol e Marcel Malczewski não tinham dinheiro ou qualquer estrutura para começar o negócio e recorreram a uma incubadora para iniciar o seu empreendimento. “O contato com os pesquisadores e o acesso aos laboratórios foi fundamental para alavancar o negócio”, diz Betiol, cofundador e membro do conselho de administração da Bematech. 

 

A empresa é apenas uma das 1,7 mil empresas que foram criadas dentro ou passaram por uma das 400 incubadoras em funcionamento no Brasil. A proteção que essas instituições oferecem aos empresários iniciantes vem garantindo uma taxa de sucesso de 80% dos projetos incubados. 

 

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Dos que deixam sua proteção, apenas 10% não conseguem sobreviver. Juntas, as empresas que já se tornaram independentes faturam R$ 4 bilhões por ano e empregam 35 mil pessoas, segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). 

 

Os dois anos e meio que a Bematech passou na Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec), que pertence ao Tecpar, permitiram a seus criadores acesso a laboratórios, contato com outros pesquisadores, estudos de análise de mercado e até bolsas para viagem de prospecção tecnológica pela Ásia. 

 

“Saímos quando o projeto estava pronto e começamos a produção efetivamente”, diz Betiol. Atualmente, seus sistemas de automação comercial podem ser encontrados em clientes da América Latina, dos EUA e da Europa, e são fabricados nos EUA, Brasil e China.

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Para os especialistas, o caminho da incubação deve ser considerado uma via de mão dupla. “É papel da incubadora manter relações e continuar colaborando com todos os seus ex-incubados”, explica Júlio Félix, ex-gerente da Intec e novo diretor-presidente do Tecpar. 

 

Criadas para promover a inovação em um país cujos empresários relutam em se arriscar no mundo da pesquisa, as incubadoras são também a aposta do governo federal para estimular a participação das empresas brasileiras no disputado mercado internacional. 

 

“A ideia é que a empresa já nasça com a inovação no seu DNA, para não precisarmos explicar por que é importante inovar”, afirma Guilherme Ary Plonski, presidente da Anprotec, que realiza, a pedido do Ministério da Ciência e Tecnologia, uma radiografia sobre a situação das incubadoras no País.

 

A Feixe Tecnologia pode ilustrar essa história. Criada em 1995 no Rio de Janeiro, a empresa passou quatro anos na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ. Durante a incubação, o empreendedor Paulo Sérgio Campos desenvolveu uma tecnologia que permitiu a substituição das pessoas que apertavam botões de contadores a cada entrada ou saída por um simples feixe de luz que realiza a contagem automaticamente. 

 

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“Não se fala mais em contador de pessoas, mas em ‘sistema feixe’”, diz Campos. A tecnologia é tão revolucionária que permitiu ao Ibope criar um indicador de atividade econômica para shopping centers, batizado de MercadoFlux. 

 

Por ser medido instantaneamente, ele antecipa em dois meses o indicador do IBGE, e com 95% de fidelidade. A Feixe monitora atualmente dois mil pontos de contagem e deve chegar a 100 dos 490 shoppings do País até o fim do ano. O faturamento da empresa cresceu em 70% no ano passado e a projeção para este ano é dobrar os ganhos.

 

Quem também trilhou o caminho da inovação foi a Pam-Membranas Seletivas. Fundada pelo professor Ronaldo Nóbrega, que já havia trabalhado durante 35 anos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele desenvolveu uma tecnologia de membranas filtrantes sem igual no País (só a Austrália fabrica algo parecido em todo o Hemisfério Sul), mas o negócio não decolava. 

 

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Depois de duas tentativas frustradas de entrar no mercado, a Pam-Membranas se instalou na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ. Quatro anos mais tarde, a empresa montou sua fábrica no Parque Tecnológico da UFRJ e entrou quase que naturalmente no mercado de purificação de água. 

 

“A incubadora foi importante para nos passar como funciona o mercado”, diz Nóbrega. Para ele, a principal contribuição da incubadora foi a exposição. “Ter sido apresentado pela Coppe valorizou a empresa”, afirma. No momento, ele discute a abertura do capital com seus três sócios na Pam-Membranas.

 

Mas não são apenas as empresas inovadoras que conseguem guarida nas incubadoras brasileiras. Muitas vezes, os empreendedores têm uma ideia promissora para um produto, mas não sabem como executá-la. 

 

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Os sócios Francisco Baltazar Neto e Julio Antônio Marcello Boffa, da Fotosensores, por exemplo, pensavam em criar um instrumento que inibisse o avanço do sinal vermelho ou de faixas de pedestre no trânsito. Para tirar a ideia do papel, buscaram o auxílio do Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec) do Ceará. 

 

“Passamos nove meses aprendendo como buscar negócios e a pensar e nos comportar como empresários”, diz Boffa. Deu certo, como se viu ao longo dos anos. A empresa atingiu R$ 20 milhões de faturamento em 2010 e planeja dobrar a receita até 2013. 

 

A Fotosensores está presente em todas as capitais do Nordeste, em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e se transformou em sinônimo do dispositivo. “No Nordeste, quando um concorrente ganha um edital para a instalação de radares, o jornal fala sobre os ‘novos fotosensores’, afirma Boffa. 

 

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As regras para entrar em uma incubadora variam de acordo com a instituição. Algumas estabelecem limites de incubação, que vão de um a cinco anos. Geralmente, só deixam a proteção quando o produto desenvolvido está pronto para o mercado. 

 

Além de receber recursos de instituições como a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, as incubadoras se mantêm por meio de mensalidades, que variam de simbólicos R$ 250 até R$ 2 mil. 

 

“Cobramos, mas, se o incubado quiser ir a uma feira de nanotecnologia em Frankfurt, nós vamos, porque temos dinheiro”, diz Sérgio Risola, diretor executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), em São Paulo, a maior incubadora de empresas do País. 

 

Criado em 1996 por uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP), o Sebrae de São Paulo e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Cietec tem capacidade para incubar 150 empresas simultaneamente. 

 

Em seus 13 anos de existência, o centro graduou 96 empresas. Muitas delas se tornaram sócias da incubadora, que faturou R$ 46 milhões no ano passado, um crescimento de 12% em relação a 2009. Esse é o caso da Adespec, fabricante de adesivos sustentáveis, que vem crescendo em média 50% desde 2007. 

 

No ano passado, ela atingiu um faturamento de R$ 12 milhões apenas seis anos depois de deixar o Cietec. Incubada durante três anos, a empresa criada pela engenheira  química Wang Shu Chen opera hoje uma fábrica de dois mil metros quadrados em Taboão da Serra, um laboratório de pesquisa na USP e um escritório comercial em São Paulo.

 

“Já devolvemos R$ 8 milhões ao Estado em impostos sobre vendas, encargos trabalhistas e investimento direto em colaboradores”, diz Wang Chen. “É mais de dez vezes o que o governo investiu na nossa empresa.” 

 

Os 25 anos como funcionária em laboratórios de multinacionais lhe causaram sérios problemas de saúde e a levaram a propor ao Cietec o desenvolvimento de uma cola adesiva sem solvente. 

 

Era uma ideia arrojada. Para isso, era necessário laboratórios e equipamentos sofisticados.“Usamos os recursos de toda a comunidade do Cietec e conseguimos montar um laboratório equivalente ao de uma grande multinacional”, diz.