Foram dois anos de um intenso brilho no setor de lãs de aço. Mas o ciclo virtuoso da Assolan, ao que parece, está chegando ao fim. A participação da empresa num mercado de R$ 500 milhões anuais caiu de 25,2% (dezembro de 2003) para 19% no período maio/junho de 2004, segundo o Instituto AC Nielsen. A queda é reflexo direto da recuperação da rival Bombril, que se livrou de grande parte dos problemas administrativos, botou as máquinas para funcionar a pleno vapor, reestruturou a distribuição e voltou com força à mídia. ?A Bombril está mais viva do que nunca?, diz um executivo que trabalha para a líder do setor. ?A Assolan deveria ter aproveitado mais o nosso período de fraqueza. Agora, já era.? Não exatamente. O empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior da Assolan (ex-Júnior da Arisco), prepara o contra-ataque em grande estilo. Vem aí uma linha completa de produtos de limpeza que inclui detergente, saponáceos e amaciante. A briga agora é por um mercado que movimenta US$ 1 bilhão ao ano no Brasil.

Coincidentemente, o enfraquecimento da Assolan com as lãs de aço acontece numa época em que Júnior tem para onde correr. Explica-se: quando vendeu a Arisco para a Bestfoods, posteriormente comprada pela Unilever, o empresário assinou um acordo pelo qual se comprometia a não entrar no setor de limpeza (químicos) e alimentos até janeiro de 2005. O prazo da ?quarentena? está se esgotando e o dono da Assolan não quer perder nem um minuto a mais pensando na guerra de esponjas com a Bombril. Na semana passada, Nelson Mello, presidente da Assolan e braço direito de Júnior, foi enviado a Louveira (SP) para tratar dos últimos detalhes da produção. Vai entregar a tarefa às fábricas Provider e TotalPack, especializadas em terceirização de manufatura. Pertencentes ao empresário Ricardo Zalaquett, as duas fábricas atuam fortemente no setor de Higiene e Limpeza e têm como clientes companhias do porte de Unilever, Procter&Gamble, Bombril e Johnson&Johnson. ?No momento, não posso dar detalhes sobre os produtos para a Assolan?, disse Zalaquett à DINHEIRO. A empresa de Júnior tem uma fábrica em Goiás, mas preferiu deixá-la mais focada nas esponjas e panos de limpeza. Além disso, a produção em São Paulo facilita a distribuição dos produtos no maior mercado consumidor do País. Procurado pela DINHEIRO, o presidente Nélson Mello mandou a secretária dizer que não tinha nenhuma notícia para dar sobre sua empresa.

Ao mesmo tempo em que estrutura a parte fabril, a Assolan prepara os canais de varejo para o megalançamento. Na semana passada, o diretor de compras de uma grande cadeia de supermercados foi convocado para uma reunião com os executivos da empresa de Júnior para negociar espaços em gôndolas da linha de detergentes, saponáceos e amaciantes. ?Eles vêm com força, dispostos a repetir o fenômeno da lã de aço?, conta o diretor da rede varejista. As embalagens já foram desenvolvidas e o preço dos produtos deverá ser um pouco menor do que o de marcas líderes como Unilever ou Ypê. No meio publicitário, as estimativas dão conta de que a Assolan deverá triplicar sua verba no ano de 2005. Para o lançamento da lã de aço, em 2002, a companhia aplicou R$ 10 milhões em mídia. A agência África, dona da conta da Assolan, não fala sobre o assunto.

A ampliação dos negócios da Assolan era um movimento esperado no meio empresarial. Júnior é o tipo de empreendedor que não se contenta em apenas ?beliscar? um segmento de mercado. Desde sempre se sabia que o homem que transformou uma pequena fabricante de tomates numa potência chamada Arisco, iria repetir a dose em qualquer novo negócio em que pusesse as mãos. Pois é isso o que ele está fazendo com a Assolan, transformando-a numa Arisco do setor de limpeza. Há até quem garanta que o empresário já espichou novamente os olhos para a indústria de alimentos e estaria interessado na Cirio-Peixe ou a Etti, pertencente à Parmalat. Mas este seria um terceiro movimento da Assolan. ?Ele é capaz até de comprar a Bombril, dependendo do sucesso dos novos empreendimentos?, diz um empresário de Goiás que há anos acompanha os passos de Júnior. ?E depois de todas essas conquistas, é capaz também de vender a Assolan por um bom dinheiro.?