24/06/2022 - 10:46
O E-ELT, o European Extremely Large Telescope ou Telescópio Europeu Extremamente Grande, cuja construção avança no norte do Chile, será o mais poderoso instrumento de observação óptica inventado até hoje, capaz de ultrapassar os limites da ciência e aumentar a capacidade de observação existente em mais de 5.000 vezes.
Este novo “olho” astronômico, que se somará a partir de 2027 aos poderosos instrumentos que já operam no Chile, permitirá superar a atual capacidade de observação, apontando para lugares ainda desconhecidos para responder a questões ainda em aberto sobre o origens do universo.
“Há certas questões científicas que queremos responder e essas perguntas nos levam à necessidade de tecnologia que nos ajude a respondê-las”, comentou à AFP Luis Chavarría, astrônomo chileno que representa o Observatório Europeu Austral (ESO), que constrói o ELT no Chile.
Os atuais instrumentos de observação, como o Very Large Telescope (VLT) – o instrumento mais poderoso atualmente em operação – e o ALMA, o maior radiotelescópio do mundo, ambos instalados no norte do Chile, são capazes de responder às perguntas que os cientistas formularam há três décadas.
Mas os limites do conhecimento avançaram, obrigando a construção de instrumentos ainda mais potentes, como o ELT, localizado a mais de 3.000 metros de altitude na montanha Armazones, a cerca de 20 km do VLT, ambos no deserto do Atacama.
“A astronomia sempre trabalha no limite da tecnologia, no limite da detecção, no limite de tudo que esses maravilhosos instrumentos podem oferecer”, acrescenta Chavarría.
A construção do ELT começou em 2017 e espera-se que esteja operacional uma década depois, no final de 2027.
Terá 39,3 metros de diâmetro, em uma espécie de favo de mel de 798 espelhos hexagonais que serão alojados em uma enorme cúpula de 85 metros de diâmetro.
A obra tem um custo de cerca de 1,3 bilhão de euros, já totalmente financiados.
– Proeza tecnológica –
Os telescópios ópticos atuais, com diâmetros de entre 8 e 10 metros, permitiram aos cientistas observar principalmente imagens de planetas orbitando outras estrelas.
Mas essas novas descobertas tornaram necessário ter um instrumento mais capaz, que pudesse coletar uma quantidade maior de luz e qualidade de detalhes.
Com 39,3 metros de diâmetro, o ELT “recolherá 15 vezes mais luz do que os telescópios ópticos atualmente em operação e fornecerá imagens 15 vezes mais nítidas do que as do Telescópio Espacial Hubble”, segundo a ESO.
Um de seus principais objetivos é “obter imagens de exoplanetas rochosos para caracterizar suas atmosferas e medir diretamente a aceleração da expansão do Universo”.
Susy Solis, geóloga assistente técnica para a construção do ELT, explica à AFP que, uma vez em operação, “deve ver 5.000 vezes mais do que vemos hoje”.
“É um projeto que nos permitirá alcançar outras distâncias no Universo”, acrescenta.
“É uma proeza tecnológica imensa poder ter os níveis de precisão necessários para poder usar esses telescópios em sua expressão máxima (…), algo que ultrapassa as barreiras da tecnologia”, diz Chavarría.
Sua localização no norte do Chile – com o céu mais limpo do planeta – permitirá a observação de 90% das noites do ano. Estar no hemisfério sul permitirá que os cientistas vejam o centro da galáxia.
Após cinco anos, o ELT está na fase de “obra civil bruta”, com avanço de 40%, com a construção do muro perimetral para a sustentação da cúpula que suportará o painel de espelhos.
As obras são realizadas em condições especialmente desafiadoras do deserto chileno, o mais seco do mundo, com temperaturas muito altas durante o dia e muito baixas à noite, além de ventos que chegaram a 70 km por hora durante a visita da AFP.
“O ELT é a evolução do VLT (…) Obviamente é uma escala completamente diferente de tudo o que foi feito antes, portanto, tem requisitos (tecnológicos) muito diferentes”, comentou à Guido Veccia, responsável pelo local de implantação do telescópio gigante.