Os juros vão continuar a subir. Essa é a conclusão da Ata da 247ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã desta terça-feira (21). Na reunião, nos dias 14 e 15 de junho, o Copom confirmou as expectativas e elevou a taxa de juros referencial Selic de 12,75% para 13,25% ao ano. A justificativa para essa elevação foi ao encontro das expectativas do mercado. O Copom afirmou que a situação “demanda cautela adicional” e prevê outro aumento dos juros, “de igual ou menor magnitude”.

Isso é praticamente uma confirmação de que a Selic vai continuar subindo. Na mais benigna das hipóteses, os juros referenciais devem chegar a 13,5% ao ano na reunião agendada para o início de agosto. E, mais importante do que isso, é o fato de o Copom considerar que “diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.”

BC indica taxa de juros alta por período prolongado para controlar inflação

Os números da Ata mostram que o panorama visto do BC é negativo. As projeções de inflação do Copom subiram em relação à Ata anterior. A inflação prevista para este ano avançou de 7,7% para 8,8%. A estimativa de 2023 subiu de 3,4% para 4,0%. E um dos principais vetores da alta de preços, o petróleo, deve seguir pressionando os índices. Na estimativa do Copom, as cotações do barril seguirão acima de US$ 110. O mesmo raciocínio vale para os alimentos, devido à desarticulação das correntes de comércio. Segundo o Copom, elas devem ser reorganizar “com a busca por uma maior regionalização”. Ou seja, menor eficiência nos custos globais.

E o potencial alívio devido a mudanças na tributação ainda não entrou nas contas. “O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual e cresceu desde a última reunião”, segundo a Ata. Tudo isso indica um cenário de juros mais altos por mais tempo.

Para não deixar dúvidas, o 16º parágrafo da Ata é claro: “O Comitê avalia (…) que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta (…) [requer] manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”. Ou seja, vamos apertar a economia.

Por virtude, por convicção ou mesmo por falta de opção, o Banco Central do Brasil levou a ameaça da inflação a sério muito antes dos congêneres de outros países. A elevação dos juros brasileiro se iniciou no primeiro trimestre de 2021, ao passo que a alta nos Estados Unidos só começou neste ano – e o Banco Central Europeu só começou a se mexer no início deste mês. Tanta diligência já deveria ter sido recompensada com uma estabilidade esperada nos preços e com uma ancoragem das expectativas do chamado mercado – essa multidão de pessoas físicas e investidores institucionais tentando ganhar dinheiro ao antecipar movimentos futuros de preços. Porém, não foi o que ocorreu. A piora do cenário externo e as ameaças crescentes à estabilidade fiscal seguem pressionando a inflação, o que justifica juros mais e mais elevados.