Os assassinatos de policiais por ativistas negros em Dallas e em Baton Rouge provocaram uma mudança de rumo no movimento “Black Lives Matter”, que protesta contra a violência policial em relação à comunidade negra nos Estados Unidos.

Nascido nas redes sociais, volúvel e acéfalo, o Black Lives Matter (BLM, “As vidas dos negros importam”, em tradução livre), nasceu de uma hashtag e se popularizou nos últimos dois anos graças à Internet.

Agora, porém, começa a ser comum ouvir que “as vidas de todos importam”, ou que “as vidas dos negros também importam”.

Essas frases são reações ao assassinato de oito policiais por separatistas negros este mês. Segundo ativistas locais do BLM, agora, o alvo do movimento é a violência armada que atinge o país, não importa de onde venha.

“Fico feliz em saber que o BLM está se convertendo em algo onde todos querem fazer sua voz ser ouvida”, disse o ativista comunitário John Lewis, em um café no campus da Universidade da Louisiana.

No dia 7 de julho, cinco policiais brancos foram assassinados por um separatista negro em Dallas, no Texas, em vingança pela morte em Louisiana e Minnesota de dois homens negros por policiais.

Provavelmente pela mesma razão, embora ainda não tenha sido confirmado, outro extremista negro matou no domingo passado em Baton Rouge, a capital da Louisiana, três policiais – dois brancos e um negro.

A rejeição e o patriotismo que tais ataques geram fazem que o BLM, que embora seja pacífico se associa a um movimento antipolícia, busque instintivamente se desvincular desses episódios e se mostrar mais inclusivo.

“Odeio dizer que essas tragédias uniram as pessoas, mas é o tipo de tragédia que faz que as pessoas conversem sobre o que está acontecendo”, disse Lewis, ignorando duas universitárias que tentavam capturar um Pokémon que aparentemente pulava sobre a mesa.

“O BLM está se encaminhando para se converter em um movimento que reúne os progressistas e as pessoas da esquerda do espectro político americano”, comentou o professor em Ciência Política Michael Heany, da Universidade de Michigan.

“Está mostrando sinais de poder fazer isso”, acrescentou.

Embora seu caráter on-line permita se moldar rapidamente a novas realidades, a principal debilidade do movimento – sua falta de hierarquia – pode ser uma ameaça para sua durabilidade, disse.

Um dos golpes de efeito mais notórios dessa guinada é a vigília nesta quarta-feira na LSU em homenagem aos policiais assassinados, convocada pela ativista muçulmana Blair Imani em conjunto com a instituição.

Há duas semanas, a mesma ativista de 22 anos havia sido presa durante um protesto do BLM contra a violência policial.

“O objetivo (do BLM) nunca foi demonizar a polícia, mas reformar as táticas e a cultura das forças policiais”, disse Imani.

“A narrativa de que há dois grupos é um grande obstáculo para que tenhamos uma conversa produtiva”, acrescentou.

“Espero que as pessoas comecem a entender que o fim da violência em todas as suas formas é o objetivo da maioria de todos os movimentos de justiça social”, completou.

Essa visão coincide com outras respostas inclusivas. Um exemplo é a missa da NAACP – a organização de defesa dos direitos dos negros mais antiga dos Estados Unidos – em homenagem aos oficiais Brad Garafola, Matthew Gerald e Montrell Jackson.

Cerca de 100 pessoas foram à vigília em New Roads, um pequeno povoado cercado de cana-de-açúcar à beira do rio Mississippi e a 60 km de Baton Rouge.

“Sentimos que nossos homens negros estão sendo massacrados (pela polícia), mas graças a isso sabemos que todas as vidas importam”, comentou a presidente do NAACP local, Ruth Oliver.

Ao dizer isso, a líder da centenária e histórica organização de direitos civis utilizou sem perceber a nova variação do slogan dos jovens do BLM.