22/02/2012 - 21:00
O País precisa ter a logística nos trinques para que os produtos cheguem ao seu destino final com o menor custo possível. A expansão dos investimentos está virando uma obsessão – bendita obsessão, diga-se – no governo da presidenta Dilma Rousseff. É o que se espera de um país que assumiu recentemente o posto de sexta maior economia do mundo, superando o Reino Unido. Quem diria, o mesmo Reino Unido da Dama de Ferro Margaret Thatcher, que, ao longo de 11 anos no poder (1979-1990), foi o símbolo de uma onda de privatizações de estatais ineficientes. Num período em que o comunismo se mostrava um retumbante fracasso, a primeira-ministra britânica tornou-se uma das precursoras do neoliberalismo. Desregulamentou o setor financeiro, flexibilizou o mercado de trabalho e esmagou os sindicatos.
Conhecida como a Dama de Ferro, Margaret Thatcher foi o símbolo de uma onda
de privatizações de estatais ineficientes no Reino Unido, na década de 1980.
Tratava-se da utopia do Estado mínimo e do mercado totalmente livre, que a crise de 2008 acabou provando que não era exatamente um primor de modelo. O Brasil entrou com atraso na era de privatizações na década de 1990. Finalmente, a iniciativa privada seria convidada a participar da busca de eficiência na prestação de serviços essenciais, mas o melhor caminho para atingi-la dependeria de cada governo. Nos mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, o episódio mais emblemático foi a venda do Sistema Telebras. O modelo de FHC pressupunha agências reguladoras fortes e independentes que fiscalizariam os concessionários privados. O dedo estatal estaria apenas nos financiamentos do BNDES.
Embora a melhoria no setor de telecomunicações seja inegável, o dinheiro obtido com a venda dos ativos ficou a léguas de distância de ser reinvestido em infraestrutura. Na era Lula, as agências foram esvaziadas e o Estado voltou a assumir um papel de primeiro plano. O caixa do BNDES foi turbinado e houve a polêmica escolha de algumas empresas “campeãs nacionais”. Nas estradas, as concessões priorizaram as menores tarifas de pedágio. Um alívio para o bolso dos usuários, mas que gerou poucos avanços para a infraestrutura rodoviária. Agora, a privatização no governo Dilma Rousseff prevê a participação da Infraero como acionista minoritário (49%). Pareceu estranho num primeiro momento, mas o ágio médio de 347% mostra que os investidores privados não se importaram com isso.
E mais: a presidenta Dilma pode ter conseguido uma mescla interessante de todos os modelos anteriores. Os parceiros privados não abrem mão do know-how da Infraero, que, por sua vez, pode transferir para os aeroportos regionais a experiência de gestão adquirida com os novos investidores. É um jogo de ganha-ganha. Os R$ 24,5 bilhões arrecadados serão investidos no sistema aeroportuário regional, que, embora deficitário, é fundamental para um país continental como o Brasil. Em recente entrevista à DINHEIRO, o ministro Guido Mantega defendeu o capitalismo de Estado, mas fez uma ressalva oportuna. “Queremos que o setor privado seja o protagonista do desenvolvimento.” Nesse ponto, até Margaret Thatcher aplaudiria.
Em tempo: o filme A Dama de Ferro, que narra a trajetória política de Margaret Thatcher, interpretada por Meryl Streep, está em cartaz nos cinemas brasileiros.