O banqueiro Richard Fuld é um patrão à moda antiga. Ele só trabalha com o tipo de gente que, nas suas palavras, ?entra às 6 da manhã e só vai para casa quando o serviço todo termina?. E não gosta de estrelas. ?Eu quero gente forte individualmente, mas que também seja parte de um time. É um equilíbrio raro?, admite. Soa um tanto antiquado, mas não há descontentes conhecidos entre os 17,3 mil funcionários do Lehman Brothers, o banco de investimentos americano que tem Fuld como primeiro e único CEO desde a sua estréia no mercado, há exatos 10 anos. Placas espalhadas pela sua sede em Nova York comemoram o décimo aniversário do banco, celebrando o fato de que suas ações valorizaram-se ao ritmo de 30% anuais ao longo da última década. Como no Lehman Brothers a maioria dos empregados é também acionista e a instituição acaba de registrar o melhor semestre de sua história ? com o valor de mercado atingindo a marca dos US$ 21 bilhões ?, a reputação de Fuld nunca esteve tão em alta.

É o triunfo do ex-patinho feio das finanças ianques. Em maio de 1994, farta de uma corretora que perdia dinheiro enquanto a concorrência registrava lucros recordes, a American Express expurgou o Lehman Brothers de seu conglomerado financeiro. A instituição sofria com o excesso de funcionários ineficientes e com a falta de imaginação de suas operações com bônus de baixo rendimento. Desafiado a fazer do patinho um galo de briga, Fuld chegou ao Lehman de tesoura em punho. O ano de 1994 foi marcado por demissões, cortes violentos de custos e pelo início da diversificação da corretora, que passou a atuar como um banco de investimentos completo, com administração de recursos, assessoria em fusões e aquisições e operações de câmbio. Mais do que isso, Fuld começou a construir uma cultura toda própria na instituição. Os tais funcionários que chegam cedo, saem tarde e mantêm seus egos sob controle tornam-se sócios do banco. Em 1994, quando o Lehman
abriu seu capital, os empregados eram donos de 4% da companhia. Hoje eles
detêm mais de 30% das ações ? e são estimulados a agir como donos. Fuld cos-
tuma dizer que contrata gente que não tem medo de questionar se a cúpula
do banco está fazendo a coisa certa.

Quando não está conduzindo reuniões de negócios, tomando decisões ou, nas horas vagas, jogando squash, ele faz listas de prioridades. ?Eu não sou dos melhores em mapear planos de cinco ou sete anos. Mas sou ótimo para fazer listas?, admitiu ele recentemente. No topo de sua lista de deveres atual está a palavra internaciona-
lização. Os novos escritórios do Lehman nas docas de Canary Wharf, em Londres, e nas colinas de Roppongi, no Japão, são as bases para expansão na Europa e na Ásia. A meta? Ampliar as fronteiras o bastante para garantir que, num futuro não muito distante, metade de suas receitas saia de fora dos Estados Unidos.

O LEHMAN BROTHERS HOJE

Valor de mercado US$ 21 bilhões

Valorização das Ações 30% ao ano

Ações em poder dos funcionários 30%