31/01/2025 - 7:30
Com o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) chamando mais atenção do que a alta da Selic, o mercado discute os rumos da política monetária, com eventuais projeções de um fim mais cedo para o ciclo de aperto.
O Banco Central confirmou as expectativas com aumento da Selic para 13,25% e sinalização de mais uma alta de 1 ponto percentual na próxima reunião, em março, mas deixou em aberto os próximos movimentos.
O dólar fechou em queda pelo 9º dia seguido, a R$ 5,85, e o Ibovespa saltou quase 3% nesta quinta-feira, 30, com agentes especulando sobre a chance de o Banco Central encerrar o ciclo de altas na Selic mais cedo.
O que os bancos enxergam
Analistas do Itaú enxergaram um ‘comunicado mais brando’ na decisão do Copom sobre a Selic.
“No geral, o comunicado tem um viés um pouco mais brando. Isso ocorre porque as projeções de inflação parecem relativamente moderadas, e as mudanças no texto sugerem preocupação com riscos à atividade econômica doméstica, bem como uma avaliação relativamente benigna (do ponto de vista de inflação) sobre o impacto potencial de choques no comércio global e nas condições financeiras”, avaliou o Itaú.
Na avaliação dos economistas do banco, o texto reage de forma contida ‘à severa deterioração das expectativas de inflação nas últimas semanas’. A expectativa do Itaú é de mais um aumento de 100 pontos-base (bps) na próxima reunião de política monetária, em março, e uma taxa terminal de 15,75% ao ano, mas ressalta que “os riscos indicam que o Copom pode encerrar o ciclo antes disso”.
“Acreditamos que o BC avalia que a política monetária se encontra em um patamar demasiadamente contracionista, de modo que, já nos encontramos próximos do fim do ciclo de alta de juros”, afirmou a equipe da Genial, que ainda vê a Selic terminal na atual rodada de aumentos em 15%.
A avaliação do mercado, assim, é de um Banco Central mais confiante em uma inflação que teve mostrar pressões baixistas, dado que o comunicado não foi considerado enérgico mesmo com a desancoragem de expectativas. Simultaneamente, as projeções de inflação do BC são destacadas.
A meta de inflação definida para 2025 é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 p.p. para mais (4,5%) ou para menos (1,5%).
O Bank of America (BofA) avalia que o comunicado do Copom ficou ‘praticamente inalterado’ em relação ao comunicado de dezembro. A casa passou a considerar ‘a deterioração contínua nas expectativas de inflação e a comunicação do BC’ e atualizou a expectativa para os ajustes de política monetária.
Agora, a visão é que ocorrerão dois aumentos adicionais de 50 bps nas reuniões imediatamente após a de março, levando a Selic terminal para 15,25%. Após isso, o BofA vê as taxas mantidas até a terceira reunião de 2026, quando o comitê deve iniciar os cortes.
Qual será a Selic terminal?
Vale destacar que, embora o ciclo possa ser mais intenso e terminar mais cedo, o mercado ainda enxerga uma taxa mais próxima de 16% do que de 15% no contexto atual.
O Itaú Unibanco recentemente revisou suas projeções, que saíram de 15% para 15,75%. Para 2026, a expectativa da casa é de 13,75%.
“Por um lado, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do 2º trimestre de 2025. Por outro, a dinâmica do real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo”, afirma equipe de economistas do Itaú, liderada por Mario Mesquita.
A XP, liderada pelo economista Caio Megale, espera uma Selic terminal de 15,50% para este ano.
“Se a desaceleração econômica se intensificar, o Copom pode optar por interromper o ciclo de alta de juros antes do que o contemplado em nosso cenário base”, diz a casa, acenando para um dos temas que tem ganhado mais espaço dentro do debate macroeconômico.
No meio termo, a expectativa do Bradesco é de uma Selic fechando o ano a 15,25%. A projeção é de que, após duas altas de 100bps, o Copom deve realizar ainda mais duas elevações de 50bps em maio e junho de 2025. Segundo a casa, as medidas de contenção de gastos do governo não foram suficientes para gerar credibilidade acerca do fiscal, gerando ‘deterioração e volatilidade, sem um vetor claro de melhora no curto prazo’.
Na visão do time de economistas liderado por Fernando Honorato, o Brasil não está em dominância fiscal e eventualmente a Selic pode subir acima do que o mercado precifica atualmente. “Trata-se de um equilíbrio delicado para a economia real e o Tesouro, que pode agravar o balanço de riscos, por isso defendíamos um ajuste mais gradual”.
Última projeção do Boletim Focus
Conforme a edição mais recente do Boletim Focus, a projeção do consenso do mercado financeiro é de uma Selic a 15% em 2025. Para o ano que vem a expectativa é de uma taxa de juros de 12,50%.
As expectativas para Selic em 2025 são as mesmas há três semanas, ao passo que para 2026 as projeções foram revisadas para cima por duas semanas consecutivas.3131