06/06/2021 - 11:52
Uma jovem ativista no centro de uma campanha nas redes sociais para impedir o possível despejo de famílias palestinas do distrito de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, foi presa neste domingo (6) pela polícia israelense, um dia após a violenta prisão de uma jornalista da rede Al Jazeera.
Esta manhã, Mona el-Kurd, de 23 anos, foi “levada para a delegacia” em Jerusalém, informou seu pai à AFP, o que imediatamente gerou protestos nos círculos palestinos e nas redes sociais.
Nas imagens da detenção, veiculadas pela família nas redes sociais, a jovem é algemada por vários integrantes das unidades de “guardas de fronteira” israelenses.
Seu irmão gêmeo, Mohammed, estrela da causa palestina com mais de 550.000 seguidores no Instagram e 180.000 outros no Twitter, estava ausente no momento da prisão, mas recebeu uma intimação e compareceu à tarde em uma delegacia de polícia em Jerusalém Oriental, a parte da Cidade Santa anexada por Israel.
Nasser Odeh, o advogado da família, confirmou que a polícia prendeu Mona el-Kurd por “perturbar a ordem pública”, incluindo participação em “motins”, e disse que seu irmão ainda estava sob investigação.
Contactada pela AFP, a polícia não comentou imediatamente as detenções.
Segundo o pai dos dois militantes, esta detenção “faz parte de uma operação que visa aterrorizar os pais e silenciar as vozes dos jovens que se levantaram no bairro”.
Mona e Mohammed el-Kurd lideram diariamente em inglês e árabe uma intensa campanha nas redes sociais em torno da palavra-chave #SheikhJarrah, a fim de chamar a atenção do mundo para a situação das famílias palestinas ameaçadas de despejo ou já expulsas de suas casas em benefício de colonos israelenses.
De acordo com a lei israelense, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes da guerra árabe-israelense de 1948, que começou com a criação do Estado de Israel, eles podem pedir seu “direitos de propriedade”. No entanto, não existe tal lei para os palestinos que perderam suas propriedades durante a guerra ou que tiveram que fugir.
Na noite de sábado, a correspondente da Al Jazeera Givara Budeiri também foi detida por várias horas pela polícia israelense enquanto cobria manifestações neste bairro, informou o canal do Catar em nota, acrescentando que o equipamento do cinegrafista que a acompanhava foi destruído.
A repórter, que usava um colete à prova de balas com a palavra “imprensa” no momento de sua prisão, disse que foi libertada sob a condição de não retornar ao bairro de Sheikh Jarrah nos próximos 15 dias.
“A intimidação sistemática de nossos jornalistas é uma violação completa das convenções internacionais”, reagiu o diretor-geral interino do canal, Mostefa Souag.
Nas últimas semanas, vários jornalistas, incluindo um fotógrafo da AFP, relataram violência contra a imprensa em Jerusalém Oriental.
No dia 15 de maio, o prédio que abrigava os escritórios da Al Jazeera e da agência de notícias americana Associated Press (AP) foi destruído em um ataque do Exército israelense, que havia solicitado a evacuação do prédio pouco antes dos bombardeios.
Um conflito de 11 dias em maio entre Hamas e Israel eclodiu após o disparo de foguetes pelo movimento palestino contra Israel, em solidariedade às centenas de manifestantes palestinos feridos em confrontos com a polícia em Sheikh Jarrah e na Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado no Islã, em Jerusalém Oriental.