Acusação foi feita por membros da flotilha que tentava levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. “Mentira absoluta”, reagiu Israel. Ação terminou com mais de 400 detidos; parte deles já foi deportada.Dois ativistas detidos por Israel junto com Greta Thunberg a bordo da Flotilha Global Sumud, que tentava levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, acusaram Israel de “tratar terrivelmente” a ambientalista sueca e defensora da causa palestina.

O malásio Hazwani Helmi e o americano Windfield Beaver afirmaram que viram Thunberg ser empurrada e forçada a se enrolar em uma bandeira de Israel. A dupla foi deportada junto com outros 135 ativistas e chegou à Turquia neste sábado (04/10), quando fez as acusações em entrevista à agência de notícias Reuters.

“Foi um desastre. Eles nos trataram como animais”, disse Helmi. Segundo ele, os presos não teriam recebido comida higiênica nem água potável, e tiveram seus remédios e pertences confiscados.

Já Beaver afirmou que Thunberg foi “tratada terrivelmente” e “usada como propaganda”, descrevendo como ela foi empurrada para uma sala à chegada do ministro israelense de Segurança Nacional, o ultradireitista Itamar Ben-Gvir.

Segundo o jornal britânico The Guardian, Thunberg teria recebido pouca água e comida na prisão e desenvolvido erupções cutâneas supostamente causadas por percevejos. Outros ativistas teriam afirmado que ela foi arrastada pelos cabelos e agredida, além de forçada a beijar uma bandeira israelense. Acusações semelhantes também foram feitas sobre outros ativistas pró-palestinos.

Israel nega maus-tratos

O governo israelense rejeitou as acusações de maus-tratos, classificando-as de “mentiras absolutas”.

Neste domingo, o ministério do Exterior alegou que Thunberg e outros detentos teriam rejeitado a deportação. “Greta também não reclamou com as autoridades israelenses sobre nenhuma dessas alegações tolas e infundadas”, afirmou via X.

ONG israelense afirma que ativistas tiveram direitos básicos desrespeitados

Segundo a ONG isralense Adalah, que dá aconselhamento jurídico sobre direitos da minoria árabe em Israel e apoiava a flotilha, alguns ativistas detidos tiveram acesso negado a advogados, água, remédios e banheiros por um período entre 36 e 40 horas.

A Adalah afirma que eles também teriam sido “forçados a ajoelhar com as mãos atadas por ao menos cinco horas, depois que alguns participantes entoaram gritos de ‘Palestina livre'”, e mantidos em celas “superlotadas”.

Alguns teriam sido ainda “obrigados” a dormir no chão em condições “duras e insalubres”, enquanto uma mulher muçulmana teria sido forçada a trocar seu hijab (véu islâmico) por uma camisa e outros teriam sofrido “restrições” para realizar suas orações.

Israel nega. “Todas as alegações do Adalah são mentiras absolutas. É claro que todos os detidos […] tiveram acesso a água, comida e banheiros; eles não tiveram negado o acesso a aconselhamento jurídico, e todos os seus direitos legais foram totalmente respeitados”, disse um porta-voz do ministério israelense do Exterior à Reuters.

Neste domingo, o próprio Ben-Gvir declarou estar “orgulhoso de que estejamos tratando os ‘ativistas da flotilha’ como apoiadores do terrorismo”. “Qualquer um que apoie o terrorismo é um terrorista e merece as condições apropriadas para terroristas”, afirmou em nota.

O ministro israelense de Segurança Nacional disse ter inspecionado os barcos apreendidos pessoalmente e não ter visto “nenhuma ajuda ou humanidade”, e sim “um barco cheio de gente que finge ser ativista de direitos humanos, mas na verdade veio para apoiar o terrorismo e se divertir às nossas custas”.

Ele defendeu ainda que os ativistas deveriam “sentir claramente as condições da detenção e pensar duas vezes antes de se aproximar de Israel de novo”.

Protestos contra interceptação da flotilha

A interceptação dos barcos da flotilha por militares israelenses e a prisão de seus mais de 450 tripulantes – entre eles brasileiros como o ativista Thiago Ávila e a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) – desencadeou protestos em diversas metrópoles ao redor do mundo.

O governo israelense chamou a ação de “provocação”, alegando que o grupo tentou violar um “bloqueio naval legal”, e assegurou que os ativistas estavam “seguros e em boa saúde” e seriam deportados “o mais rápido possível”.

“Aqueles que estavam agindo legalmente eram as pessoas a bordo dos barcos; aqueles que agiram ilegalmente eram os que os impediram de chegar a Gaza”, declarou a jornalistas em Roma o advogado italiano Arturo Scotto, que participou da missão da flotilha.

Antes de interceptar os barcas, Israel se ofereceu para transportar a carga levada para portos fora de Gaza para posterior entrega. A proposta, contudo, foi rejeitada pelo grupo sob o argumento de que o cerco a Gaza seria uma violação do direito internacional.

Entre os ativistas já deportados estão cidadãos de países como Turquia, Estados Unidos, Emirados Árabes, Algéria, Marrocos, Itália, Kuwait, Líbia, Malásia, Mauritânia, Suécia, Tunísia e Jordão, segundo fontes do ministério turco do Exterior.

A Flotilha Global Sumud, que zarpou no fim de agosto rumo a Gaza, foi a tentativa mais recente de ativistas de romper com o bloqueio naval ao território palestino em meio à guerra que Israel trava desde que foi alvo de um ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro de 2023.

O grupo radical palestino, que segue em atividade em Gaza, é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e outros membros da comunidade internacional.

ra (Reuters, dpa, EFE)