SÃO PAULO (Reuters) – O desempenho dos ativos brasileiros mostrava alguma acomodação nesta terça-feira após tombo na véspera, mas investidores continuavam vendendo ações e comprando dólares no segundo dia útil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incertos sobre o futuro das contas públicas e temerosos sobre o comando de empresas estatais.

O dólar avançava no final da manhã e chegou a operar acima de 5,40 reais nos picos do dia. Por volta de 13h, contudo, subia 0,75%, movimento mais comportado do que o visto na véspera, quando a moeda norte-americana à vista fechou em alta de 1,5%, maior valorização diária desde 25 de novembro.

+ Haddad diz que CMN vai voltar a ser formado por Fazenda, Planejamento e BC

Na bolsa paulista, o Ibovespa recuava 0,3%, a 106.046 pontos, abandonando tentativa de melhora vista na abertura, depois de ter fechado a segunda-feira em baixa de 3%.

As taxas dos principais DIs também desaceleraram o ritmo de alta para 6 a 8 pontos-base na curva de janeiro de 2024 a janeiro de 2027 nesta terça-feira. Na véspera, os mesmos contratos dispararam de 10 a quase 30 pontos-base.

A avaliação dos participantes do mercado financeiro é de que persistem temores sobre o teor desenvolvimentista e intervencionista do governo Lula, reforçado nos últimos dias por falas tanto do presidente quanto de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

No domingo, ao assumir o comando do Palácio do Planalto pela terceira vez, Lula voltou a criticar a regra do teto de gastos e prometeu revogá-la, ainda que tenha rejeitado fazer qualquer “gastança” e tenha prometido um governo responsável.

“No geral, os primeiros discursos de Lula e Haddad ainda são consistentes com nosso cenário base, mas reconhecemos que ambos soaram menos pragmáticos/moderadamente fiscalmente responsáveis ​​do que pensávamos inicialmente”, avaliou o Citi em relatório.

Haddad prometeu responsabilidade na conduta das contas públicas e coordenação entre as políticas monetária e fiscal em seus primeiros pronunciamentos como ministro, mas tem encontrado resistência do mercado, desconfortável com a falta de detalhes sobre qual será o arcabouço fiscal a ser apresentado por ele no primeiro semestre para substituir o teto de gastos.

Também não repercutiu bem a decisão do novo governo de prorrogar a desoneração dos combustíveis após o ministro da Fazenda ter pedido ao governo anterior para não estendê-la, com o mercado ainda buscando saber quem de fato comandará a economia.

De acordo com Maciel Vicente, economista e consultor cambial da iHUB Câmbio, a decisão referente aos combustíveis continua reverberando nesta sessão.

“Quando acontece uma ação dessa, o mercado bota no preço… Qual vai ser o ponto de equilíbrio entre decisões políticas e decisões puramente econômicas?”, disse. Ele espera a manutenção de volatilidade nos mercados financeiros durante as primeiras semanas do governo Lula, conforme novas medidas são anunciadas.

Nesse contexto, Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG, avalia que não há gatilho específico para uma recuperação mais estrutural dos mercados, mesmo que muita coisa negativa já tenha sido descontada nos ativos locais, embora acredite em ralis de alívio, uma vez que vê preços baratos e a posição técnica saudável.

Na bolsa, a expectativa é de que estatais federais continuem pressionadas, particularmente os papéis da Petrobras, empresa que foi citada por Lula nominalmente como um dos agentes que terá papel no desenvolvimento do país, e após o novo governo ter revogado atos que davam andamento à privatização de uma série de estatais, entre elas a petrolífera.

Depois de despencar mais de 6% na véspera, as preferenciais da petrolífera recuavam 1,44%, a 22,59 reais, nesta terça-feira, diante das preocupações com a estratégia da petrolífera estatal, tendo ainda no radar afirmação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que a companhia terá um papel central na expansão da capacidade de refino de petróleo do Brasil.

Por Luana Maria Benedito e Paula Arend Laier