Manifestantes invadiram partes do trajeto e impediram continuidade da tradicional competição de ciclismo. Israel acusou premiê espanhol pelo incidente.Protestos pró-palestinos interromperam neste domingo (14/09) a etapa final da Volta da Espanha, em Madri, uma das três maiores competições anuais do ciclismo mundial. Os ativistas protestavam contra a participação de uma equipe israelense na competição.

O ciclista dinamarquês Jonas Vingegaard foi declarado vencedor, mas não cruzou a linha de chegada, que foi obstruída e ocupada por cerca de 3 mil manifestantes, segundo cálculo da mídia espanhola.

“A corrida acabou”, disse um porta-voz dos organizadores, que também cancelou a cerimônia de pódio, deixando Vingegaard comemorando no banco traseiro do carro de sua equipe. A prova foi interrompida cerca de 55 quilômetros antes de seu fim previsto.

Mais tarde, o governo da Espanha disse que cerca de 100 mil pessoas participaram do ato. O grupo derrubou barreiras de metal e ocupou diversos pontos do trajeto da corrida aos gritos de “não passarão”.

Duas pessoas foram presas e 22 policiais ficaram feridos, informou o governo espanhol.

Mobilizações em menor escala haviam ocorrido em dias anteriores da tradicional competição de ciclismo espanhola, que dura cerca de três semanas em suas 21 etapas. Alguns ciclistas chegaram a ameaçar desistir da prova quando rotas foram bloqueadas, provocando quedas.

Antes da etapa final, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, havia expressado “admiração pelo povo espanhol que se mobiliza por causas justas como a palestina”. A ministra da Saúde, Mónica García, disse que os atos mostraram que o país é um “farol global na defesa dos direitos humanos”.

No começo de setembro, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, também apoiou a exclusão da equipe israelense Israel-Premier Tech da Volta.

Confrontos com policiais

O governo espanhol mobilizou um forte aparato de segurança para a etapa deste domingo, com o objetivo de conciliar a competição com o “direito de protestar”. Mais de mil policiais foram convocados, o maior contingente desde que a capital espanhola sediou a cúpula da Otan há três anos.

A polícia conteve por várias horas a multidão que carregava cartazes e bandeiras, enquanto os ciclistas cortavam vilarejos a caminho de Madri.

À medida que os corredores se aproximavam da capital, os manifestantes atiraram garrafas plásticas e cones de trânsito, derrubaram barreiras e avançaram para a pista, segundo as autoridades. Policiais de choque armados com cassetetes dispararam bombas de fumaça.

Tensão entre Espanha e Israel cresce

O episódio agrava as tensões entre Espanha e Israel. O país europeu tem liderado esforços contra a incursão militar israelense em Gaza. O conflito teve início após ataques do Hamas deixarem centenas de civis mortos em 7 de outubro de 2023.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, publicou no X que Sánchez e seu governo eram “uma desgraça para a Espanha”.

“Hoje ele incentivou os manifestantes a irem às ruas. A turba pró-palestinos ouviu as mensagens e destruiu a Volta da Espanha.”

O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, também culpou Sánchez pelo ocorrido.

“Violência pela qual o primeiro-ministro é diretamente responsável, devido às suas declarações nesta manhã incitando os protestos”, disse Martínez-Almeida.

Santiago Abascal, líder do partido de ultradireita Vox também atacou Sánchez. “Ele não se importa com Gaza. Não se importa com a Espanha. Não se importa com nada. Mas quer violência nas ruas para manter o poder.”

É a primeira vez que uma das Grandes Voltas do ciclismo é impedida de concluir sua etapa final por manifestantes políticos desde 1978, quando a mesma Volta da Espanha foi interrompida por separatistas bascos em San Sebastián.

Guerra afeta eventos esportivos e culturais

A guerra de Israel contra o grupo islâmico palestino Hamas tem provocado protestos em todo o mundo e afetado vários eventos esportivos e culturais.

Também na Espanha, sete enxadristas israelenses desistiram de um torneio na última sexta-feira, depois que os organizadores disseram que eles não poderiam competir usando a bandeira de Israel, citando o conflito em Gaza e expressando solidariedade aos palestinos.

Na última quarta-feira, um festival belga de música clássica barrou a participação da Orquestra Filarmônica de Munique por entender que seu futuro maestro, o israelense Lahav Shani, não teria uma postura clara sobre o conflito.

gq (AFP, Reuters)