17/06/2011 - 21:00
É natural dos hotéis, como cortesia, disponibilizar xampu, cremes e até deixar mimos sobre o travesseiro, como chocolates e flores. Mas é só. Um gentil sorriso de uma funcionária, conduta polida de atendimento, não deve e não pode ser confundido como um flerte pelo hóspede. Segundo uma pesquisa encomendada pela revista americana Newsweek, muita gente parece misturar as estações e deixar-se enganar pelas aparências.
O estudo apontou que 21% dos 400 executivos e empresários entrevistados, todos casados, admitiram a intenção de manter relações sexuais com uma pessoa, que não o cônjuge, em viagem de negócios. Já 12% revelaram que costumam abrir a porta do quarto, para arrumadeiras, seminus. Ainda, 8% do total realmente chegou às vias de fato, em sua maioria mais de uma vez, e 2% confessaram já terem tido relações sexuais com funcionários do hotel.
O cenário revelado pelo estudo reflete um comportamento que levou o ex-diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e o ex-banqueiro egípcio Mahmoud Abdel Salam Omar, do Banco de Alexandria, à cadeia. Ambos foram envolvidos em denúncias de camareiras por supostos abusos sexuais, ocorridos dentro de quartos de hotéis de Nova York. Os dois acontecimentos deixaram os sindicatos da categoria em polvorosa e a indústria hoteleira americana em alerta.
A reação do hotel The Pierre, localizado em frente ao Central Park, por exemplo, foi munir todas as suas camareiras com “botões antipânico”. Medida que o sofisticado hotel The Ritz-Carlton estuda seguir. Já o mais forte sindicato dos empregados da indústria hoteleira dos EUA, o UNITE HERE!, está pressionando os hotéis para que ofereçam cursos extras, que informem e alertem suas funcionárias sobre assédio sexual nos estabelecimentos, além de exigir a criação de uma cartilha com a “nova etiqueta hoteleira” (veja detalhes no quadro mais abaixo), que compreende deveres tanto delas, funcionárias, quanto deles, hóspedes.
De acordo com Carlos Fabris, diretor de Recursos Humanos do Grupo Posadas, dono, entre outras, das bandeiras Caesar Park e Caesar Business, esse procedimento ainda não é necessário no Brasil. “Felizmente, ainda não é o momento de utilizarmos essa alternativa no País”, diz Fabris. “De mais a mais, já trabalhamos há tempos com a prevenção e o treinamento de nosso pessoal para que casos semelhantes não ocorram.” No ramo há mais de dez anos, Bruno Omori, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo, diz nunca ter ouvido relatos de acontecimentos parecidos na hotelaria brasileira.
Apesar disso, o código de conduta hoteleira é rigidamente informado a todos os funcionários das redes. “O funcionário passa por um treinamento ao entrar em qualquer hotel associado”, diz Omori. “E o reforço é feito a cada três meses. Para os integrantes da governança, por terem um contato maior com os hóspedes, este código é repassado toda semana.”
De acordo com Omori, no Brasil, dificilmente uma camareira entra num apartamento de hotel para fazer a limpeza na presença do hóspede. Exceto se o serviço tiver sido requisitado pelo próprio. “No entanto, esse não é um procedimento-padrão no Brasil”, afirma o presidente da Abih-SP. “Caso o hóspede peça, a direção é avisada e a camareira não pode se aproximar dele. E deve sempre manter a porta do apartamento aberta.” O diretor de RH do Posada ressalta que, aqui, “o mais importante é o atendimento correto e não o diálogo ou o contato físico com o hóspede”.