O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chega à metade do mandato com praticamente todas as vitrines planejadas por sua gestão atrasadas. Obras como corredores e terminais de ônibus, milhares de unidades habitacionais e novas escolas e piscinões seguem no papel e correm risco de não ficarem prontas a tempo de Nunes, candidato à reeleição, apresentá-las como trunfo eleitoral. A demora em nada tem a ver com dificuldades financeiras. A capital segue com um caixa recorde, de quase R$ 35 bilhões.

A pandemia de covid-19 e as exigências do Tribunal de Contas do Município para liberar editais estão entre as justificativas do governo municipal para não ter iniciado projetos importantes para a cidade. São pelo menos 13 editais paralisados, em áreas como infraestrutura, educação e transportes.

Os apontamentos do TCM postergam, por exemplo, a execução de um pacote viário de R$ 4,6 bilhões até 2024. Nesse conjunto estão a construção do primeiro trecho do BRT Radial Leste e as obras complementares de prolongamento da Avenida Doutor Chucri Zaidan, na zona sul. Mas, diante das chuvas, é a demora no início e na conclusão de obras de manutenção e prevenção que pode atrapalhar os planos eleitorais de Nunes.

O Estadão levantou ao menos três licitações suspensas com impactos diretos na avaliação da população sobre o trabalho do prefeito: a construção de um piscinão para contenção do córrego Mooca, na zona leste; o recapeamento da malha viária de vias locais e a pavimentação de ruas de terra. Até agora, apenas três dos 14 piscinões prometidos por Nunes foram entregues.

A um ano e meio da eleição, os potenciais adversários de Nunes, os deputados Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB), já começam a explorar as demandas não atendidas nas redes sociais.

O caixa cheio também virou alvo. Segundo a própria Prefeitura, dos R$ 34,9 bilhões nas contas, R$ 21,6 bilhões são de recursos do Tesouro e R$ 13,3 bilhões de recursos vinculados – relativos, por exemplo, a operações urbanas, fundos municipais e convênios.

METAS

Ciente do desafio, Nunes tem cobrado secretários e intensificado reuniões com o objetivo de monitorar o andamento de projetos relevantes. No início do ano, ele nomeou Fernando Chucre como secretário executivo de Planejamento e Entregas Prioritárias. O arquiteto, que já comandou pastas nos governos municipal e estadual, voltou à Prefeitura com a função de fazer andar cerca de 400 projetos, além de cuidar do monitoramento do Plano de Metas. Até dezembro, 13 dos 77 objetivos anunciados em março de 2021 haviam sido realizados.

De acordo com o secretário, um novo balanço será publicado em abril juntamente com o anúncio de mais dez metas. Chucre afirmou que já participou de mais de 60 reuniões com secretários e técnicos para avaliar cada meta e definir ações para executá-las. “O objetivo é ajustar, corrigir e, em muitos casos, ampliar o conjunto de metas”, disse.

Para o secretário, na metade do mandato não é o resultado de metas cumpridas que avalia melhor a implantação das mesmas. “É preciso avaliar o monitoramento realizado e os esforços da administração no cumprimento das diversas etapas necessárias ao cumprimento dos compromissos até 2024”, afirmou. “Projetos e metas de menor complexidade já estão sendo entregues à população, outros estão em obras ou licitação”, completou.

APOSTA

Ainda parcialmente suspenso pelo TCM, o plano de mobilidade é a grande aposta de Nunes para a reeleição. Pelas redes sociais, ele afirma que a cidade vai virar “um canteiro de obras de mobilidade para melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Em um vídeo divulgado na quinta-feira, o prefeito destaca obras como o corredor de ônibus de Itaquera, de 14 km de extensão, com previsão de atender 50 mil passageiros por dia.

O balanço mais atual, no entanto, expõe as dificuldades para tirar melhorias do papel. Dos 40 km de corredores planejados, somente 4,1 km foram entregues. Nenhum dos quatro novos terminais de ônibus foi entregue e, dos 300 km de expansão da malha cicloviária anunciados, 36 km foram concluídos.

Enquanto não inicia as obras, o prefeito alimenta nos mais de 2 milhões de usuários do sistema de ônibus a esperança da tarifa zero. Bandeira de políticos do PSOL, como Boulos, o tema foi aventado por Nunes no ano passado, quando seu gabinete encomendou um estudo sobre a viabilidade financeira da medida. Ainda indefinida, a proposta atenderia aos milhares de autônomos da cidade que não têm direito ao vale-transporte.

Sobre as recorrentes suspensões de editais, a Prefeitura informou, por meio de nota, que “nas tratativas de grandes projetos a interlocução para o saneamento das dúvidas com o Tribunal de Contas dos Municípios é normal”. O TCM afirmou que as suspensões são resultado de “infringências” identificadas nos editais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.