18/08/2001 - 7:00
Ela chegou discreta, até um pouco tímida. E só depois de um ano de operação resolveu mostrar a que veio. E, principalmente, avisar que já chegou. A AT&T Latin America Brasil ? uma subsidiária da gigante de telecomunicação norte-americana ? completou, na semana passada, doze meses de operação no País. Neste período, construiu uma infra-estrutura de fazer inveja às antigas operadoras locais. E focou seus serviços exclusivamente ao setor corporativo. Investiu consideráveis US$ 500 milhões, construiu 55 mil quilômetros de fibras ópticas, ganhou 900 clientes e faturou US$ 27 milhões em 2000 ? pouco mais de 1% do mercado total estimado, de US$ 2 bilhões. Agora, resolveu fazer alarde, como é seu estilo nos mercados que domina. Entrou no ar com uma campanha de tevê em rede nacional. Nos próximos dias, deverá estar em páginas de revistas e jornais e, em seguida, parte para as tevês a cabo. Ninguém fala em valores gastos com esta jogada de marketing. Bolada em Nova York e adaptada para os mercados regionais em que atua, tem objetivos ambiciosos. ?Queremos posicionar a empresa no Brasil, fortalecendo a marca AT&T, que é mundialmente conhecida?, explica o presidente nacional da
empresa, Carlos André. ?Vamos chegar à liderança do
mercado em cinco anos?, avisa.
A operação latino-americana é nova. O sonho de romper fronteiras
e se tornar uma companhia verdadeiramente global é, no entanto, antigo. Em 1997, quando assumiu a presidência mundial, Michael Armstrong dizia querer abraçar o mundo. Desde então, vem fazendo isso com destreza. Realizou centenas de aquisições, criou novas redes de infra-estrutura, ofereceu diferentes serviços… E a AT&T cresceu. É uma empresa completa, que segue atuando como operadora de telefonia ? foi a primeira do mundo, no século 19, depois da invenção do telefone por Graham Bell ?, fornecedora de serviços e soluções corporativas, provedora de Internet de banda larga, transmissora de tevê e tudo mais que possa passar por redes de fibras ópticas. Diga-se de passagem, infra-estrutura que ela mesma fabrica. No ano passado, faturou US$ 66 bilhões. Mas nem tudo é azul no balanço de Armstrong. Em todo o mundo, o setor de telecomunicações está em uma fase negra e a companhia não passou ilesa. Perdeu mercado, faturamento e teve de demitir boa parte de seus quadros. Nos últimos meses, as ações da empresa perderam metade de seu valor. Comenta-se ainda que ela
estaria interessada em vender parte de sua operação de
banda larga nos Estados Unidos.
Mesmo no Brasil, as tentativas de se firmar como uma das grandes forças das telecomunicações vêm se repetindo há anos. A companhia não teve sucesso nos leilões de privatização do setor e teve de adotar uma estratégia modesta para os seus padrões. No final de 1999, decidiu sair à caça e abocanhou a NetStream, do Grupo Promon, que oferecia serviços de transmissão de dados a empresas. Por US$ 300 milhões, um valor considerado caro à época, levava não só uma boa rede de infra-estrutura, mas, principalmente, uma extensa base de clientes. O ano passado foi de expansão. A empresa investiu mais US$ 84 milhões e ampliou sua rede de fibra óptica, de três para sete cidades. Com isso, ganhou os mercados da capital paulista e Campinas (SP), Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Brasília. ?A atuação no mercado latino se restringirá à área corporativa?, diz André. ?Até 2005, nossa operação será positiva. Vamos ter lucro?, promete o executivo. ?A vantagem da AT&T é ter uma rede em regiões geográficas importantes, com alto volume de operação?, explica Pedro Villani, analista de telecomunicações do ABN Asset Management.
Nem a crise assustou a gigante. No primeiro semestre de 2001, repetiu a dose. E faturou US$ 23 milhões, igual ao resultado de
todo ano de 2000. ?Isso confirma nossa expectativa. O potencial
do Brasil é enorme?, diz André. O grande ano da empresa, entretanto, ainda está por vir. A partir de 2002, quando os serviços de operação de telefonia estarão abertos para todas as empresas, descortina-se um bilionário novo mercado. A AT&T não pretende deixar passar. Já avisou que começará a oferecer telefonia de
longa distância. Para o segmento corporativo, apenas. E, com isso, quer aumentar sua participação, brigando com as fortes concorrentes instaladas no País. Além da AT&T, há a Pegasus, Diveo, MetroRed, ImpSat e algumas operadoras convencionais,
como Embratel, Telefonica e Telemar.
Por aqui, enfrenta ainda a crise nacional e a falência das pontocom, que são, tradicionalmente, grandes clientes deste setor. ?Nos próximos dois anos, haverá queda de demanda e excesso de oferta de serviços. Todos os players terão de operar com baixa rentabilidade?, garante Paul Aran, especialista de telecomunicações do Lehman Brothers, em Nova York. Outro problema apontado por especialistas é a falta de uma abordagem ?multitecnológica?. Ou seja, no Brasil, a AT&T trabalha apenas com transmissão por redes de fibras ópticas, enquanto suas concorrentes operam também via ondas de rádio, cabos ou qualquer outro meio, dependendo da necessidade do cliente. Além disso, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, a AT&T Brasil tem uma infra-estrutura limitada a sete cidades. Traduzindo: é como uma distribuidora de água que tem as torneirinhas, mas não as adutoras. Ela depende de outras para ter um serviço completo. A dúvida é se ela conseguirá garantir o binômio preço e qualidade, que é sua marca registrada.