09/02/2005 - 8:00
O capitalismo é cruel com os seus ícones. A venda da AT&T para a SBC Communications na semana passada por US$ 16 bilhões confirmou essa tradição. A compradora levou para casa aquela que já foi a jóia da coroa do mercado mundial de telecomunicações. A ironia por trás da operação é a própria história da SBC, que atua na telefonia em 13 Estados americanos. A empresa nasceu há 21 anos em função da decisão do governo dos Estados Unidos de quebrar o monopólio da AT&T sobre a telefonia de longa distância no país. Em determinado momento esse controle chegou a 98% do mercado. Sem essa hegemonia, a AT&T, fundada há 130 anos e herdeira da empresa criada por Alexander Gran Bell, o inventor do telefone, terminou como alvo fácil dos concorrentes. Enquanto a SBC se tornou uma grande companhia com 167 mil empregados, 50 milhões de clientes e vendas anuais de US$ 41 bilhões.
A venda foi recebida com tristeza por muitos que acompanharam a trajetória da AT&T. Foi dos laboratórios da empresa, o lendário Bell Labs, que saiu uma das invenções mais revolucionárias do século passado, o transistor, que possibilitou o surgimento da moderna indústria de tecnologia. O Bell Labs produziu 40 mil invenções desde a sua fundação em 1925. A intervenção governamental em 1984 durante a administração de Ronald Reagan foi o mais duro golpe na AT&T, que na década de 80 teve 1 milhão de empregados. A companhia precisou sair de mercados lucrativos e abriu espaço para o nascimento daquelas que se tornaram conhecidas como ?baby Bells?. A SBC foi uma delas e há oito anos, no governo Bill Clinton, tentou fazer o mesmo negócio da semana passada. A idéia não prosseguiu. Havia o temor da volta do monopólio, que no atual governo Bush não existe mais. Desde então, a situação da AT&T ficou mais complicada. Os concorrentes cresceram, a tecnologia que ela ajudou a desenvolver (como a que permite hoje fazer ligações pela internet) se voltou contra ela e vários ativos precisaram ser vendidos. Entre eles, a operação da América Latina hoje nas mãos da Telmex, do mexicano Carlos Slim, o mesmo dono da Embratel. Nos últimos dias, o quadro de pessoal da AT&T era de 47 mil pessoas e nada lembrava aquela corporação que já foi sinônimo
de telefonia.