Vamos voltar aos anos 1980. Nessa época, uma pessoa que arriscasse prever quais seriam as grandes empresas de tecnologia do futuro teria que mencionar empresas como Commodore, dona da linha de computadores Amiga, e Atari, a mãe do videogame moderno. A primeira faliu há 20 anos, a segunda entrou com pedido de recuperação judicial, há duas semanas. No Brasil, era difícil ver 30 anos atrás um amanhã sem Tectoy, CCE e Gradiente. Atualmente, já sem a lambuja dada pela reserva de mercado do governo militar, esse trio virou retardatário do setor. No mundo digital, as regras viram do avesso tantas vezes que só existe uma certeza: mais mudanças virão. 

 

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Hoje o Santo Graal do mercado de TI são os celulares, que para muitos já substituem os computadores pessoais das vetustas companhias. Só em hardware, os smartphones devem movimentar US$ 215 bilhões, em 2015. No ano passado, o crescimento desse setor girou na casa dos 40% por trimestre na comparação com o ano anterior, segundo as principais consultorias. Isso sem contar as cifras robustas que circularão nos softwares, serviços, acessórios e aparelhos similares, como tablets. Em perspectiva histórica, os smartphones foram criados ontem, mas eles já sofreram reviravoltas imensas. Na década passada, era garantido que Palm, Nokia ou RIM dominariam o cenário de telefones conectados. 

 

Mas, em 2007, surgiu Steve Jobs com uma caixinha preta cheia de ícones chamada iPhone. Enquanto as três empresas coçavam a cabeça, os consumidores aderiram em massa ao aparelho. A imprensa também ficou perdida e na época noticiou o surgimento de um misto de telefone com iPod. A descrição não arranha nem a superfície do que significou o surgimento do celular da Apple, principal produto da empresa mais valiosa do mundo. A companhia não está com a vida fácil – a Samsung se tornou líder do mercado de smartphones no ano passado. Fazendo a lista de chamada das ex-promessas dos dispositivos móveis, a Palm foi comprada pela HP e sumiu. 

 

A Nokia parece fazer um grande corte de funcionários por bimestre e, após fracassar com programas próprios, aposta tudo o que tem em celulares com Windows. A RIM, na semana passada, adotou o nome de sua marca mais famosa, BlackBerry, e faz sua última tentativa de sair do grupo das empresas empacadas nos 4% de participação de mercado de smartphones ao mostrar um sistema operacional redesenhado. E pensar que Barack Obama foi chamado de “presidente BlackBerry” quando venceu sua eleição para o primeiro mandato. Na reeleição, a alcunha já estava em desuso. Celulares são a ponta do iceberg. Como no ramo da tecnologia a premissa dos vencedores é inovar, a ascensão e queda das empresas são acompanhadas de perto pelo público. 

 

Depois de anos sofrendo pressão das coreanas Samsung e LG, a holandesa Philips vendeu, na semana, passada suas divisões de áudio e vídeo. Sua linha de tevês já tinha sido passada adiante em 2011. A companhia agora vai se concentrar em vender lâmpadas e equipamentos médicos-hospitalares. “Com o entretenimento online, as pessoas não compram aparelhos de Blu-ray e DVD”, disse o CEO Frans van Houten. As palavras óbvias de Houten resumem um novo consumidor, que não se sente compromissado em ter que usar um serviço ultrapassado por fidelidade à marca. O cliente quer o melhor. E ponto. Aos empresários, a tarefa é difícil. É impossível prever o que não foi inventado. O ideal é sempre estar preparado para ser surpreendido.