Uma pesquisa divulgada pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) revelou um aumento de 60% no número de empresas do setor de bares e restaurantes que teve prejuízo no mês de janeiro de 2024, em comparação com o mesmo mês no ano passado. O estudo ouviu 2.128 empresários de todos os estados do país que trabalham no ramo, entre os dias 19 e 26 de fevereiro. Acredita-se que o baixo movimento de clientes, principalmente em cidades menos turísticas, fez com que 29% dos empreendimentos do setor registrassem prejuízos.

Em entrevista à Agência Brasil, Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, relatou que janeiro foi duro aos empresários do ramo. O estudo da associação apontou que 59% dos bares e restaurantes do Brasil tiveram uma receita menor nos primeiros 30 dias do ano do que no mês anterior. Em regiões não turísticas, o faturamento sofreu uma queda de 10%. “A gente vinha melhorando. Em dezembro, o setor tinha chegado ao maior número do ano. Isso estava nos animando. Mas veio uma rebordosa grande em janeiro”, explicou.

Segundo o presidente da Abrasel, janeiro possui diferenças quando comparado aos outros períodos do ano. Em áreas com grande movimento de turistas, como o Rio de Janeiro, Santa Catarina e o litoral nordestino, o mês não foi ruim. Entretanto, em estados como São Paulo e o Distrito Federal, o fluxo de clientes sofreu uma queda. “O Brasil é muito diferente. Ele fica mais assimétrico em janeiro do que o normal”, esclareceu Paulo Solmucci.

A pesquisa conduzida pela associação demonstrou que, nos primeiros 30 dias do ano, o número de empreendimentos que registrou lucro passou de 48%, em dezembro, para 34%. “Acabou que janeiro foi um mês duro. Não foi bom, não”, reiterou Paulo Solmucci, acrescentando que as chuvas também foram responsáveis por manter muitas pessoas dentro de suas casas, com grandes centros urbanos chegando a ficar inundados.

+ 54% dos bares e restaurantes só faturam 10% da receita de antes da pandemia

+ Festas de fim de ano elevam faturamento e contratações em bares e restaurantes de SP

Plano de recuperação

Em uma tentativa de realizar uma recuperação dos bares e restaurantes do Brasil, a Abrasel encomendou um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que também irá avaliar os impactos da reforma tributária. A expectativa de Paulo Solmucci é que, em seis ou oito meses, possa haver um plano de restauração dos negócios do ramo que terá coordenação do governo federal e será apresentado às partes interessadas para que “possa acontecer de fato”.

De acordo com o presidente da Abrasel, empresas como a Coca-Cola e a Ambev já demonstraram apoio ao plano da associação, inclusive com um auxílio financeiro à pesquisa encomendada. “O que a gente quer trazer é uma grande proposta que possa ser liderada pelo governo federal, mas que transcenda as esferas públicas. A gente quer um plano que não seja só sobre ângulo do poder público, mas que seja alargado para agências de fomento, como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial)”, declarou Paulo Solmucci.

Ainda segundo o presidente da associação, 43% dos empreendimentos do ramo está com os pagamentos atrasados, em um número que segue estável há dois anos. “Ou seja, quatro em cada dez empresas do setor estão caminhando para uma situação de insolvência, porque adquiriram um endividamento muito forte durante a pandemia da covid-19 e não estão conseguindo quitar”, afirmou Paulo Solmucci. 69% dos estabelecimentos devem impostos federais, um quarto das pendências é devido a encargos trabalhistas e outros 28% e precisam pagar serviços públicos.

“A situação precisa de um olhar sistêmico”, concluiu Paulo Solmucci. Para o presidente da Abrasel, empresas que caminham para a situação de insolvência requerem um auxílio maior, “porque, senão, a gente vai ter uma destruição em massa, de novo, de empregos no setor”, concluiu, complementando que é preciso um pacto nacional para a plena recuperação do ramo.

Carnaval

Apesar disso, a pesquisa da Abrasel concluiu que, em fevereiro, o feriado de carnaval auxiliou empreendimentos do ramo a recuperarem alguns dos prejuízos sofridos em janeiro. De acordo com o estudo, 76% dos estabelecimentos receberam clientes ao longo dos dias de folia, e destes, 40% relataram um aumento no faturamento em relação ao mesmo período no ano passado. Entre os outros bares e restaurantes, 15% teve um desempenho similar ao de 2023 e 39% fecharam o carnaval com um resultado abaixo da última folia. Cerca de 6% de tais estabelecimentos não existiam.

Entretanto, o levantamento revela que uma dificuldade no ramo é o reajuste em preços dos cardápios. Ao todo, 40% dos bares e restaurantes não aumentaram os preços nos últimos 12 meses, enquanto 51% efetuou apenas correções baseadas na inflação ou abaixo. De acordo com o estudo da Abrasel, 9% dos estabelecimentos do ramo consegue elevar os preços acima da inflação.