A Vinícola Aurora anunciou o lançamento de mais um produto sem álcool em seu catálogo: depois do espumante, vem aí o vinho sem álcool. O produto é fruto de uma demanda identificada pela empresa ao ver que as novas gerações estão consumindo menos álcool e tem uma preocupação cada vez maior com a saúde e o bem estar. 

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Rodrigo Valério, diretor de Marketing e vendas da Aurora, explica que durante a pandemia houve um boom no consumo de bebidas alcoólicas, já que a maioria das pessoas estava isolada em casa. Já nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum o hábito de beber menos ou com mais moderação.  

“Na pandemia, houve um período inicial de aumento no consumo de álcool, mas as pessoas começaram a perceber os prejuízos do excesso de álcool à saúde e às relações. Isso levou a uma busca por um estilo de vida mais saudável, o que também impulsionou um crescimento significativo, de cerca de 40% entre 2020 e 2025, no consumo de suco de uva”, explicou.

Segundo estudo realizado pela MindMiners nos Estados Unidos, a Geração Z (18 a 25 anos) consome menos álcool em comparação com gerações anteriores: 45% disseram consumir atualmente, ante 57% entre Millennials (de 29 a 44 anos) e 67% na geração X (45 a 60 anos). O produto vem para ocupar esse gargalo em um mercado livre de álcool que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. 

Companhia também está de olho no público religioso

Além do mercado de bem estar e na Geração Z, a marca também desenvolveu o produto de olho em um público cada vez maior no país: os evangélicos. De acordo com o IBGE, atualmente 26,9% da população brasileira se declara evangélica. 

Assim como algumas denominações protestantes e neopentecostais, os muçulmanos também não consumem álcool e são uma parcela muito importante dos consumidores dos produtos sem álcool da marca, que já exporta parte desses produtos para países árabes, como o Líbano.  

Rodrigo explica que essas bebidas muitas vezes ajudam na hora da confraternização das famílias. 

“Para pessoas que, devido à religião, não admitem bebida alcoólica, a taça de vinho, mesmo que desalcoolizado, permite que se sintam completas em eventos como casamentos ou festas, participando do brinde e da celebração. Houve relatos de casamentos onde o público brindava com refrigerante, suco ou água com gás”, conta. 

Os vinhos sem álcool estarão à venda a partir de outubro no e-commerce da Aurora e nos principais pontos de venda em todo o país, com preço sugerido de R$ 55 cada garrafa.

Em 2023 a Aurora ficou marcada, junto com outras cooperativas da região de Bento Gonçalves (RS), pelo caso de trabalho escravo em propriedades produtoras da uva parceiras. A companhia teve que assinar um  Termo de Ajuste de Conduta (TAC) de R$ 7 milhões com o Ministério Público do Trabalho. Desde então a empresa está priorizando a contratação de trabalhadores CLT na época da colheita e obrigou as propriedades a terem alojamentos para os funcionários.

Qual a diferença para o suco de uva? 

Há duas diferenças principais entre o suco de uva integral e o vinho sem álcool. A primeira é que o vinho é feito com uvas finas, diferente do suco, que usa uvas de mesa. Elas também são usadas nos vinhos mais baratos. 

A primeira linha de vinhos desalcoolizados da marca conta com três opções: o branco, feito com a uva chardonnay; e os tintos, feitos com a uva cabernet sauvignon, disponíveis nas versões adoçadas e não adoçadas. 

A outra diferença é que o vinho sem álcool passou pela fermentação, mas teve o seu álcool retirado por meio de um processo de evaporação. Isso faz com a bebida fique diferente e desenvolva outras características de sabor e aroma. 

“A fermentação do suco de uva em vinho não se trata apenas de transformar açúcar em álcool, ela provoca uma modificação complexa de compostos aromáticos, extração de taninos e cor. Essas alterações são irreversíveis, o que significa que, ao remover o álcool, a bebida não retorna a ser um suco, mas sim uma bebida distinta, com o aroma característico de um vinho”, explicou Christian Bernardi, enólogo responsável pelo produto. 

Apesar da diferença entre o vinho sem álcool e um suco de uva, o especialista afirma também que deve haver um gerenciamento de expectativas do consumidor do vinho convencional, pois a experiência de sabor também não vai ser igual a da bebida com álcool.

Como o álcool é retirado? 

O enólogo explica que o processo de retirada do álcool do vinho acontece por evaporação. As principais etapas são: 

  • Aquecimento Parcial do Vinho: uma parte da bebida é submetida ao calor;
  • Geração de Vapor: este vinho aquecido gera um vapor;
  • Circulação do Vapor: o vapor gerado percorre o restante do volume do vinho;
  • Sistema a Vácuo: todo o processo ocorre dentro de um sistema que está sob vácuo, com a pressão reduzida e sob sucção;
  • Evaporação do Álcool: o vinho, que está em movimento e sendo succionado, é aquecido pelo vapor do próprio vinho. Essa movimentação das moléculas, combinada com o vácuo, faz com que o álcool evapore e seja removido;

“A ideia central é que o álcool seja puxado para fora do vinho por meio de uma evaporação que ocorre em condições de vácuo, facilitada pelo aquecimento”, explica.

Concorrente da cerveja sem álcool?

O mercado de vinhos desalcoolizados ainda é pequeno no Brasil, ao contrário das cervejas, em que as principais companhias já possuem opções sem álcool. No caso do vinho, alguns produtores menores no Brasil já estão fabricando a bebida, além de opções importadas que chegam até o mercado nacional. 

Em uma busca na internet é possível encontrar opções do produto em sites especializados em bebidas sem álcool. Dentre as grandes produtores nacionais, a Aurora é a primeira a oferecer a bebida. Outra produtora nacional, a Nova Aliança, tem o planejamento de lançar a sua linha de vinhos desalcoolizados em 2026.