Faz cerca de duas semanas que o titular desta coluna aderiu ao Era Transmídia, grupo baseado na cidade de São Paulo e que reúne profissionais de TI, artistas e gente da área de comunicação em geral. Nosso objetivo é estudar e debater as relações entre as diversas mídias e sua utilização de forma múltipla no momento de uma narrativa, quando um personagem de quadrinhos se transforma em meme, num filme, num comercial de TV, num livro até em um game. 

Cheguei ao pedaço uma semana antes do início do cultuado e concorrido festival South by Southwest (SXSW) que reúne em Austin (Texas) até domingo 20/3, o que tem de mais inovador na Economia Criativa, em novas mídias e na tecnologia. Criado há 30 anos como um festival de música, o evento congrega empreendedores, makers, artistas, intelectuais, nerds, enfim, todas as tribos que dialogam com a inovação. Inclusive o presidente Barack Obama e sua mulher Michelle que participaram de rodas de conversas e debates. O primeiro, desafiou os criativos e nerds a ajudarem o governo a buscar soluções tecnológicas para ampliar o acesso dos cidadãos aos serviços públicos. Michelle, por sua vez, foi lá defender o emponderamento feminino, especialmente das afro-amercianas. 

Austin, aliás, surpreende os desavisados. Afinal, a cidade fundada às margens do rio Colorado, dentro de um dos mais “caipiras” estados americanos, está se firmando como um lugar inovador. Em todos os sentidos. “Em seu dia a dia, a cidade abriga desde plataformas de compartilhamento de veículos e bikes elétricos, até clubes para a prática de tiro de arco e flecha com equipamentos que custam até US$ 3 mil e podem derrubar animais de grande porte”, conta o presidente do Era Transmídia, Rodrigo Arnaut, engenheiro de computação, professor na FAAP, de São Paulo, e pesquisador nas áreas de criatividade e inovação. 

Rodrigo lidera o grupo do Era Transmídia que desembarcou em Austin, na sexta-feira 11/3, para viver a experiência SXSW. Nesta entrevista ele fala sobre a importância do festival e o que o Brasil pode aprender com estas experiências, especialmente nas iniciativas empreendedoras baseadas na Economia Criativa que pipocam por todos os cantos da cidade texana.

A seguir, os principais pontos da entrevista: 

A impressão de quem acompanha à distância é de que a população de Austin assumiu o festival como uma parte importante de seu DNA. Isso pode ser comprovado em suas andanças pela cidade? 

É muito curioso tudo que acontece por aqui neste período. A cidade se transforma em um grande palco para todos os tipos de criativos e inovadores, quer seja na música, no cinema e na tecnologia. A cada evento, vemos que tudo aqui foi pensado e executado de uma forma transmidiática. A Budweiser, por exemplo, usou um show musical para ações interativas que misturavam música e tecnologia. Para pegar uma cerveja tinha de encostar a pulseira num leitor. A realidade virtual também é um recurso bastante usado nos eventos. Outro destaque é a possibilidade de sermos recrutados para realizar trabalhos de forma colaborativa, atendendo a chamamentos feitos por gigantes globais como a japonesa NHK, da área de mídia. Aliás, a interação com as marcas acontece a todo instante. O próprio Obama veio fazer uma palestra aqui, na qual provocou e estimulou os criativos a apresentarem soluções inovadoras para ampliar a interação entre o setor público e os contribuintes. A sul-coreana Samsung franqueia a entrada em seus eventos para usuários dos celulares da marca e até paga o táxi no final das festas que promove.  

E qual a importância, no sentido prático, de se encarar uma maratona de dez dias de festival? 

Um dos grandes diferenciais é o foco no networking. Além de conhecer tendências em todas as áreas, é possível encontrar pessoas de destaque. Apenas na área cinematográfica, um grande foco dos brasileiros, estão sendo apresentados 130 produções. Com a vantagem de dialogar, em várias oportunidades, com profissionais do calibre de J.J. Abrams (diretor de Lost e de Star Wars). E estes encontros acontecem de uma forma natural desde o período do café da manhã até à noite, nas festas promovidas por empresas. 

Mas, além do festival quais são os demais elementos que acentuam a força da inovação e do empreendedorismo em Austin?

A cidade está fortemente inserida na mobilidade sustentável. Existem sistemas de compartilhamento de carros e de bicicletas elétricas, além dos Pedicabs. Trata-se de uma espécie de “táxi tricicleta” movidos a energia e conduzidos por jovens, homens e mulheres, que parecem ter saído de uma agência de modelos. Contudo, a parte ruim é o custo da tarifa. Para andar em um dos veículos do sistema Car2 Go é preciso desembolsar US$ 5, enquanto no Pedicab paga-se o dobro: US$ 10. No caso dos ônibus compensa comprar o passe de 24h, por US$ 2,50, pois ele custa apenas um dólar mais caro que a passagem em cada trecho. Tem também o Uber e o Lift, que concorrem com os táxis. Aliás, o ponto destoante são os táxis. Só tive experiências ruins com os motoristas. 

Como a equipe do Era Transmídia está conseguindo acompanhar as centenas de atividades e encontros que acontecem pela cidade? 
Bem, é muito complicado. Para poder escrever os textos para nossas redes sociais, tive de ficar um dia inteiro em casa. É muita informação ao mesmo tempo e na correria fica difícil pensar direito e se concentrar. Felizmente nos preparamos muito para seguir as atrações. Aliás, a organização é fantástica. As informações foram colocadas no site do evento com bastante antecedência, o que nos permitiu uma preparação inicial muito forte. Em meu caso, posso dizer que sofri de FoMO (Fear of MISSING OUT, medo de perder alguma coisa, na tradução literal) apenas antes de desembarcar por aqui. 

Austin tem recebido uma série de imigrantes, de diversas partes do mundo. Tanto que já figura como um cobiçado destino turístico dos EUA. Você e a equipe do Era Transmídia têm a pretensão de cumprir o roteiro proposto no livro 100 Coisas para Fazer em Austin Antes de Morrer, de Kirsty Owen? 

É impossível. Viemos para cá para cobrir o evento que tem uma agenda muito intensa. Austin tem muitas coisas para serem conhecidas e desfrutadas. Já conhecemos alguns bares da área boêmia, a 6th Street. Tem alguns programas muito bacanas nos arredores da cidade, em localidades que sequer constam do Google Maps. Para ir para lá, somente com indicações. Nas baladas locais, como a The White Horse, o que vigora é a indumentária de cowboy. Mas todos são extremamente atenciosos e fazem questão de deixar os visitantes à vontade. Algo que nos surpreendeu bastante e de forma positiva.  

Mas, e aquele Texas que valoriza a posse das armas de fogo e tem na cultura do cowboy uma de suas grandes expressões, ele também está presente? 

Sem dúvida. Aqui perto da casa na qual estamos hospedados tem uma escola de arquearia que conta com uma diversidade impressionante de equipamentos capazes de abater todo tipo de bicho. A decoração inclui animais espalhados e muitas, muitas armas, vendidas por entre US$ 200 e US$ 3 mil. 
 
Clique e confira mais informações sobre a atuação do Era Transmídia no SXSW