23/08/2022 - 8:35
A partir de setembro mais de 20 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil poderão aderir o crédito consignado, aprovado pelo governo federal. Considerado uma armadilha para muitos economistas, o limite de comprometimento da renda é de até 40%. Os bancos Bradesco, Santander e Itaú informaram que não vão operar o empréstimo. Apenas os bancos públicos Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem oferecer a modalidade. O governo não estabeleceu limites para a taxa de juros que poderá ser cobrada.
A medida preocupa especialistas pelo risco de endividamento de famílias mais vulneráveis. “Hoje, quase 80% da população está endividada. A maioria sofre com os altos reajustes da inflação e o aumento do custo de vida. Por isso, contrair mais uma dívida, por menor que pareça ser, pode se transformar em uma bola de neve”, afirma Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo.
Pesquisa do Grupo Boa Vista mostra que desemprego (28%) e a diminuição de renda (24%) são as principais causas da inadimplência no primeiro semestre de 2022. O estudo apontou que 63% dos consumidores possuem três ou mais contas em atraso, com dívidas a partir de R$ 3 mil.
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Para Alleman, neste momento, é essencial ter cautela e organizar gastos para não comprometer-se financeiramente nos próximos meses. “Muitas pessoas utilizam o empréstimo para aumentar a renda, porque existe uma falsa noção de que você tem mais dinheiro para gastar. Mas vale lembrar que o auxílio é temporário, enquanto o empréstimo é algo que você tem que quitar até o final”, alerta.
A educadora financeira destaca que o dinheiro não deve ser usado para fazer novas dívidas. “Caso haja a necessidade, esse recurso deve ser usado para quitar compromissos anteriores”, orienta Allemann.
De acordo com a especialista, o consignado do Auxílio Brasil pode valer a pena para quem tem alguma necessidade urgente, mas não para pagar contas do dia-a-dia. Isso porque os juros altos podem comprometer a renda disponível do beneficiário a longo prazo e reduzir as reservas para os gastos essenciais, como alimentação. “Antes da liberação de crédito, é preciso organizar o orçamento de forma consciente. O Auxílio Brasil deve ser utilizado com prioridade para o bem-estar e alimentação da família e, caso sobre dinheiro, use-o para pagar dívidas”, afirma.
Allemann também ressalta que como a parcela do empréstimo é descontada diretamente do valor do benefício, não é possível renegociar a dívida. “Uma alternativa é fazer a portabilidade desse empréstimo para outro banco, com condições mais vantajosas. O interessado deve observar bem as condições oferecidas pelas instituições, especialmente com a expressão a partir de”, alerta Allemann.
Segundo a educadora financeira, o principal cuidado na hora de contratar esse tipo de empréstimo é saber exatamente como o dinheiro será gasto. “Outras dica para evitar novas dívidas são quitar os parcelamentos que tenham juros mais altos e regularizar bens sob o risco de serem perdidos em dívida”, conclui a especialista.