26/11/2020 - 8:39
Um ano após o início da pandemia, a ciência ainda não inventou um tratamento milagroso contra a covid-19: apenas uma família de medicamentos, os corticosteroides, demonstrou sua eficácia, ao contrário de outras moléculas muito esperadas, como remdesivir.
OS QUE SÃO EFICAZES
– Dexametasona e outros corticoides
A dexametasona é o único tratamento que reduz a mortalidade de covid-19 e desde setembro é recomendada para pacientes em estado grave pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que se baseiam em um vasto estudo britânico, o Recovery.
No entanto, não deve ser administrado no início da doença, pois diminui as defesas imunológicas. É justamente por isso que atua nos pacientes mais graves, pois reduz a aceleração do sistema imunológico – a chamada tempestade de citocinas – responsável pela perigosa inflamação.
Os demais medicamentos da mesma família, os corticoides, também reduzem a mortalidade em 21% após 28 dias, de acordo com vários estudos publicados em setembro na revista médica americana Jama.
A OMS, portanto, recomenda o “uso sistemático de corticoides para pacientes em estado grave ou crítico”.
– Anticoagulantes
Como os corticoides, os anticoagulantes são usados entre os pacientes nas condições mais graves. O objetivo é evitar coágulos sanguíneos, uma das complicações da covid-19.
OS QUE SÃO INSUFICIENTES
– O remdesivir
Grandes esperanças foram colocadas neste tratamento antiviral, inicialmente desenvolvido contra o Ebola.
No dia 8 de outubro, a Comissão Europeia anunciou que havia fechado um acordo com seu fabricante, Gilead, para o fornecimento de 500 mil doses.
Em 22 de outubro, a Administração de Drogas dos Estados Unidos (FDA) autorizou o remdesivir permanentemente.
No total, esse medicamento rendeu à Gilead quase 900 milhões de dólares no terceiro trimestre. Mas, em 20 de novembro, a OMS desaconselhou dá-lo a pacientes internados com covid-19, pois, de acordo com as conclusões de quatro ensaios clínicos internacionais que comparam a eficácia de vários tratamentos, este não evita mortes ou casos graves.
Segundo a OMS, é prematuro concluir que o remdesivir, vendido sob a marca Veklury, não apresente benefícios. Mas o fato de sua eficácia não ter sido demonstrada, aliada ao seu custo e potenciais efeitos colaterais – especialmente para os rins – levou à não recomendação de seu uso.
Em contrapartida, um estudo publicado no final de maio no American New England Journal of Medicine mostrou que a medicação reduziu ligeiramente o tempo de recuperação de pacientes hospitalizados (de 15 para 11 dias em média).
OS DESCARTADOS
– A hidroxicloroquina
Este antimalárico, defendido com unhas e dentes pelo agora famoso médico francês Didier Raoult, foi o assunto de um acalorado debate em que líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro tomaram partido (a favor).
Mas estudos, especialmente o vasto estudo British Recovery, mostraram que a hidroxicloroquina é ineficaz contra a covid-19.
Os resultados detalhados foram publicados em 8 de outubro no New England Journal of Medicine.
A saga também foi marcada por um escândalo acadêmico: no início de junho, a prestigiosa revista The Lancet teve que retirar um estudo crítico com a hidroxicloroquina por suspeitas de fraude em sua metodologia.
– Lopinavir-ritonavir
Administrada contra o vírus da aids, a combinação dessas duas drogas antivirais comercializadas sob o nome de Kaletra não é eficaz entre os pacientes hospitalizados por covid-19, de acordo com o Recovery, cuja publicação detalhada ocorreu em 6 de outubro no The Lancet.
OS QUE CONTINUAM SOB EXAME
– Tocilizumab
Esse imunossupressor, usado contra a artrite reumatoide, poderia ser usado para combater o fenômeno inflamatório responsável pelos casos mais graves de covid-19. No entanto, até agora, os estudos não forneceram uma resposta categórica.
Pesquisadores do Imperial College London anunciaram em 19 de novembro que o tocilizumabe parece ter um efeito benéfico, de acordo com os primeiros resultados de seu ensaio clínico ainda preliminar.
Três estudos publicados em outubro na revista Jama Internal Medical relataram resultados mistos.
O estudo Recovery, que testa essa droga em grande escala, pode fornecer mais informações nas próximas semanas.
– Anticorpos de síntese
Esses anticorpos chamados “monoclonais” são produzidos em laboratório e injetados por via intravenosa para apoiar o sistema imunológico na neutralização da SARS-CoV-2.
Trump recebeu esse tratamento experimental, fabricado pela empresa americana de biotecnologia Regeneron.
A FDA aprovou em novembro o “uso emergencial” desse tratamento e de outro semelhante, fabricado pela farmacêutica Eli Lilly.
Mas a eficácia dos anticorpos sintéticos da Regeneron continua a ser avaliada, especialmente pelo Recovery.
– Plasma
Trata-se de dar ao doente uma transfusão de plasma sanguíneo retirado de pacientes curados para se beneficiar de seus anticorpos.
Segundo alguns estudos, esse tratamento foi eficaz no tratamento do vírus Ebola e da SARS, da mesma família do novo coronavírus.
A recuperação atualmente compara se a distribuição de plasma é mais eficaz do que outros tratamentos.