23/06/2019 - 9:12
Pássaros comuns em parques e áreas verdes de cidades paulistas, como o bem-te-vi-rajado, estão agora voando com minúsculas “mochilas” nas costas. Atadas ao corpo da avezinha por um fio de silicone, as mochilinhas levam um GPS de 1 grama e do tamanho de uma moeda de 5 centavos.
O componente tecnológico é parte de uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro que busca entender a migração das aves que, como os mochileiros humanos, costumam viajar para várias regiões do continente, mas sempre voltam para casa.
As aves levam ainda anilhas coloridas na pata, permitindo a colaboração de pessoas comuns, que ajudam a monitorar as espécies. Além do bem-te-vi-rajado, fazem parte do estudo a tesourinha, o suiriri e a peitica, escolhidos por sua larga distribuição geográfica e por migrarem dentro do continente.
Eles são também pássaros conhecidos do público, o que facilita a participação, segundo a pesquisadora Karlla Barbosa, do Instituto de Biociências da Unesp. “Todo ano essas aves viajam milhares de quilômetros e voltam para se reproduzir em parques de São Paulo, como o Ibirapuera e o do Carmo, ou áreas verdes no interior, como Rio Claro, Guararema e Marília. Qualquer um que esteja nesses parques de setembro a fevereiro pode achar esses pássaros.”
Na fase inicial da pesquisa, em 2017, Karlla e seu orientador, o cientista Alex Jahn, vinculado à Unesp e à Universidade de Indiana (EUA), puseram anilhas coloridas nas patinhas de 50 aves. Após a migração, constataram que 50% delas voltaram ao ninho de onde partiram.
Após comprovarem a fidelidade ao local de partida, os cientistas agora querem saber para onde as aves vão durante a migração. Dados de ciência cidadã obtidos em plataformas de observadores, como o eBird e o Wikiaves, têm mostrado que esses pássaros estão no Sul e no Sudeste do País entre agosto e março, mesmo período em que as populações do Norte e Nordeste diminuem ou desaparecem.
Estratégia
Por ter tamanho e peso reduzidos, as “mochilas” com GPS não fazem a transmissão em tempo real, mas acumulam dados – por isso precisam ser recuperadas. As aves são capturadas para a colocação da “mochila” e, no ano seguinte, é tentada a recaptura para retirar o dispositivo e extrair os dados no computador.
Para reduzir o estresse das capturas, os cientistas criaram o Mymo, falso bem-te-vi-rajado que imita a voz e atrai o verdadeiro, caindo na rede ao atacar o suposto rival. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.