18/05/2022 - 17:51
Acompanhando a acentuação de perdas ao longo da tarde em Nova York, o Ibovespa devolveu nesta quarta-feira a recuperação vista nas últimas cinco sessões, que havia tirado o índice do negativo para o positivo no mês. Agora a referência da B3 volta a anotar perda em maio (-1,51%) ao fechar nesta quarta-feira em queda de 2,34%, a 106.247,15 pontos, pressionada pela retomada da aversão a risco desde o exterior, onde prevaleceram nesta quarta-feira sinais ruins sobre a trajetória da covid-19 na China, após relativa melhora nos últimos dias quanto à transmissão da doença no país.
Em Nova York, as perdas na sessão ficaram entre 3,57% (Dow Jones) e 4,73% (Nasdaq). O petróleo também passou por ajuste, em queda superior a 2%, que recolocou o Brent na casa de US$ 109 por barril. Aqui, na mínima desta quarta, o Ibovespa foi aos 106.038,40 (-2,53%), saindo de máxima a 108.923,44 e abertura a 108.788,23 pontos, com giro a R$ 30,0 bilhões em dia de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, a referência cede 0,63%, limitando o ganho do ano a 1,36%.
Com a aversão a risco agravada à tarde, as perdas se acentuaram nos setores de maior peso e liquidez, em especial o de siderurgia, onde chegaram à casa de 5% para Gerdau PN (-5,69%) e CSN ON (-5,82%). Entre os grandes bancos, a correção chegou a 2,77% (Unit do Santander), enquanto Petrobras e Vale mostraram queda na faixa de 1,6% a 2,5% no fechamento, respectivamente de 2,26% e 1,64% para ON e PN da estatal, e de 2,53% para a ON da mineradora. Entre as maiores perdas do índice, destaque para Banco Inter (-8,62%), Ultrapar (-7,71%) e Dexco (-6,43%). No lado oposto, apenas sete ações da carteira teórica conseguiram sustentar ganhos na sessão, com Locaweb (+13,95%), Hapvida (+4,45%) e Ecorodovias (+2,27%) à frente.
Após sessão sem sinal único na Ásia, as perdas se aprofundaram no horário de negócios na Europa, estendendo-se depois a Brasil e Nova York, em meio ao temor de que “os estímulos realizados por Pequim não sejam suficientes para recuperar as perdas causadas pela política de Zero Covid”, observa em nota a Nova Futura Investimentos. Assim, em dia no qual o Goldman Sachs cortou a previsão de crescimento da segunda maior economia do mundo, rumores de que nova área de confinamento estaria sendo implementada em Tianjin mantiveram os investidores globais na defensiva desde a manhã.
“O Ibovespa acompanhou hoje o mercado americano nas mínimas do dia. Um ponto a destacar foi que, diferente da maioria dos dias em uma perspectiva mais longa, a Bolsa aqui caiu e com juros dos Treasuries fechando. Hoje, não foi abertura de Treasuries que provocou essa queda em bolsa, mas sim uma aversão maior a risco, com o medo de desaceleração global mais forte – seja também por Fed um pouco mais ‘hawkish‘ apesar das declarações relativamente tranquilizadoras do Jerome Powell (presidente do Fed), recentemente”, diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.
“As pessoas estão exigindo um retorno maior nas ações para determinado nível de Treasury”, acrescenta o gestor. “Mercado está percebendo mais risco para frente, no horizonte. Sintoma de fuga de risco nos mercados globais, que é o que temos visto tanto nos Estados Unidos, com essa queda forte do S&P 500 hoje (-4,04% no fechamento), como também na B3”, observa Martinez, destacando o “sofrimento” maior visto nos setores orientados à economia global, como os de mineração e siderurgia, em dia também negativo para segmentos com exposição à atividade doméstica, como comércio eletrônico e construção civil.
“O dia foi extremamente pesado para os mercados do mundo inteiro, com os investidores ainda preocupados quanto a inflação e ritmo de atividade global, considerando ainda os lockdowns (na China). A mensagem do Powell ontem, sobre levar o juro (de referência dos EUA) acima do nível considerado neutro, se necessário, e balanços ruins de empresas do varejo americano, como Walmart, resultaram em reação forte dos mercados, com corrida para segurança nos Treasuries”, diz Romero de Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.
“Em câmbio, o movimento também foi de ‘risk off‘, com decepção sobre o desempenho de empresas do varejo nos Estados Unidos, que resultou em forte correção das bolsas lá fora, além da questão dos novos lockdowns na China, que coloca em jogo a recuperação da economia chinesa nos próximos meses, com revisão da expectativa do Goldman Sachs para o PIB do país, de 4,5% para 4% (em 2022) – mais lógico em relação ao risco de desaceleração da economia (chinesa) no segundo trimestre. O dia foi claramente de aversão a risco, com o índice DXY (que contrapõe o dólar a uma cesta de referências, como euro, iene e libra) se reaproximando de 104″, diz Luciano Costa, economista e sócio da Monte Bravo Investimentos.
No Brasil, o dólar à vista voltou a ser negociado a R$ 5 na máxima da sessão (R$ 5,0003) e fechou aos R$ 4,9826, em alta de 0,80%.