13/02/2002 - 8:00
Durante quase 30 anos, a financeira Aymoré se acostumou a ver os concorrentes pelo espelho retrovisor. Especializada em empréstimos para a compra de veículos, a Aymoré sempre foi sinônimo de liderança absoluta no mercado. Não é mais. No início do ano, a empresa foi ultrapassada por um concorrente, em altíssima velocidade. A Continental, financeira que pertence ao Bradesco, passou ao primeiro lugar com a compra do banco Ford e da financeira Finasa. Segundo fontes do mercado, a Continental ficou com a maior carteira de empréstimos do País, com R$ 4 bilhões, contra
R$ 3,5 bilhões da Aymoré.
?A liderança não é fundamental. Mais importante é a rentabilidade do negócio?, desdenha Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro, controlador da Aymoré. Embora não esteja disposta a abrir os cofres para comprar concorrentes, a Aymoré definiu seus planos para avançar no mercado. ?Nossa estratégia é de crescimento orgânico e não de aquisições?, diz Barbosa. Em 2002, a financeira quer abrir 12 filiais, fora as 50 lojas que tem hoje. Além disso, vai diversificar os negócios e diminuir o peso do financiamento de veículos, que representa 80% de sua carteira. Nos últimos três anos, a Aymoré entrou em novos ramos, como financiamento de viagens, equipamentos de informática e móveis.
O futuro da Aymoré é chave para o desempenho do ABN-Amro no Brasil. Em 1998, os holandeses deram um lance espetacular com a compra do banco Real e pareciam dispostos a engolir o mercado brasileiro. Desde então, não voltaram a fazer aquisições importantes e perderam mercado para concorrentes mais agressivos como o Bradesco e o Itaú. No ramo das financeiras, porém, o ABN-Amro dominava o mercado com a Aymoré. Mas nos últimos tempos, os concorrentes se deram conta que esse é um dos mercados mais rentáveis e com maior potencial de crescimento no Brasil e avançaram sobre o território holandês.
?Estamos em plena safra de fusões e aquisições no ramo das financeiras?, diz Paulo Ísola, diretor da Continental. Ísola também dá de ombros e nega que sua prioridade seja a liderança. Mas diz que a empresa precisa crescer rápido porque a forte concorrência exige que as financeiras sejam cada vez maiores, para diluir custos e oferecer preços competitivos. ?Estamos de olho nas oportunidades de mercado?, avisa Ísola. Hoje, a Continental tem contratos de financiamento de 500 mil veículos, entre novos e usados, o equivalente a quase 30% de toda a frota zero quilômetro do País. Ísola acredita que esses números vão se multiplicar nos próximos anos. ?O mercado vai disparar?, afirma.
Existem vários motivos para tanta confiança. Antes do Plano Real, só 10% das vendas de carros eram financiadas. Esse número subiu para 60% e, pelas contas dos especialistas, deve crescer ainda mais, aproximando-se da média de 85% registrada nos Estados Unidos. Além disso, o bolo dividido pelas financeiras também deve aumentar com o crescimento da frota de carros brasileira. Há ainda uma outra razão para os fortes investimentos que têm sido feitos na compra de financeiras. Como existe uma tendência de queda na taxa de juros e o desenvolvimento de técnicas para diminuir a inadimplência, os financiamentos podem ter um crescimento explosivo. ?Essa é a aposta?, diz Ísola. A Aymoré que se prepare para uma nova largada na disputa pelo mercado.