07/08/2015 - 20:00
A o entrar em um iate da italiana Azimut-Benetti, é impossível não prestar atenção nos detalhes. A lancha de 70 pés que ilustra esta reportagem, por exemplo, conta com sala, cozinha, três suítes e duas churrasqueiras, entre outras comodidades. Os clientes podem escolher grifes como Giorgio Armani e Loro Piana para compor o design interno de seus barcos. Dentro deles, dá até para esquecer dos mares revoltos da economia do País.
Na trajetória do estaleiro, que faturou globalmente € 650 milhões no ano passado, enfrentar as adversidades faz parte do negócio desde os primeiros tempos de sua implantação no Brasil, iniciada em 2010, quando decidiu instalar-se em Itajaí, no litoral norte catarinense. Burocracia, treinamento de mão de obra deficiente e falta de infraestrutura foram alguns dos entraves encontrados pela Azimut, que precisou adaptar suas expectativas aos custos da operação brasileira, mais altos do que o previsto. A atual crise econômica também não ajudou a aumentar o otimismo. “O Brasil, agora, é visto como uma grande oportunidade perdida na Europa”, afirma a italiana Giovana Vitelli, vice-presidente global da Azimut e filha do fundador Paolo Vitelli.
Para Giovana, após a tempestade encontrada cinco anos atrás, veio a bonança. Mais bem estruturada e acostumada às peculiaridades do mercado local, a Azimut, hoje, navega em mar de almirante. A empresa deve fechar o ano com 35 iates produzidos em Itajaí, sete a mais do que em 2014. Mais: o dólar forte inibiu a importação e colocou a exportação no radar. A partir deste ano, todas as embarcações de 42 pés vendidas no mundo, avaliadas em R$ 2,5 milhões cada, passam a ser fabricadas no Brasil e enviadas para os mais de 85 mercados em que a empresa italiana atua. O CEO da subsidiária brasileira, Davide Breviglieri, estima que neste ano, pela primeira vez, o faturamento da Azimut do Brasil ultrapassará a barreira dos R$ 100 milhões. “O brasileiro não deixa de gastar durante a crise, ele gasta melhor”, afirma Breviglieri. Mesmo fazendo parte do mercado de superluxo, tradicionalmente um dos mais resistentes a crises, o crescimento da Azimut não deixa de surpreender. Dentre as máquinas mais caras que os endinheirados possuem, como jatinhos particulares e helicópteros, o iate é o único “brinquedo” que é direcionado apenas para o lazer. “O barco é a última prioridade dos milionários”, afirma Breviglieri. “O segredo é criar um produto que seja cobiçado.”
Ter o privilégio de navegar em seu próprio iate custa caro. Apenas para guardar o barco numa marina, por exemplo, o proprietário precisa pagar um valor de, no mínimo, R$ 5 mil mensais. Além disso, precisará contratar funcionários para cuidar da embarcação, como um capitão, um imediato e, pelo menos, um tripulante. Para um barco de 70 pés, o custo da tripulação é de cerca de R$ 20 mil por mês. O combustível é outro fator que encarece a manutenção. Em velocidade de cruzeiro e com o tanque cheio, o mesmo iate pode fazer uma viagem de 12 horas, equivalente ao trajeto entre Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e o litoral de São Paulo, ao custo de outros R$ 20 mil na conta. As cifras, no entanto, não estão espantando os clientes. Um biliardário brasileiro acabou de receber o seu Azimut de 80 pés, o primeiro desse porte fabricado no País.
A escolha do Brasil para ser a sede do segundo estaleiro da companhia no mundo não ocorreu por acaso. O País é o segundo maior mercado da Azimut, atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, como o barco é produzido artesanalmente, a linha de produção chinesa, apesar de ser mais barata, nem sequer foi cogitada para receber a Azimut. “Nosso produto é mais refinado e a China não tem uma cultura de fabricá-lo”, afirma Giovana. “O mercado de luxo brasileiro é mais sofisticado.”