Em um dia que varejistas sobem no Ibovespa, as ações da Azzas 2154 derreteram 10,4% na bolsa de valores. O motivo está atrelado a rumores de ‘divórcio’ entre os sócios da empresa, resultado da fusão entre a Arezzo&Co e o Grupo Soma.

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A fusão foi consolidada há cerca de oito meses atrás e, agora, circulam notícias de que os sócios Alexandre Birman e Roberto Jatahy estão negociando uma separação, uma divisão do negócio. Segundo informações do site Pipeline, ambos os sócios da Azzas já contrataram assessoria legal e financeira para tentar realizar essa divisão.

Birman, que é CEO da Azzas, tem sido assessorado pelo Morgan Stanley e pelo escritório Spinelli Advogados, ao passo que Jatahy tem G5 e Barbosa Mussnich lhe assessorando.

Na rotina da empresa, Jatahy – que chefia a operação de moda feminina da Azzas – deixou de reportar ao CEO, Birman, e passou a responder diretamente ao Conselho de Administração – atitude que teria desagradado o chefe da empresa.  Nesse contexto, a proposta de Birman é para comprar a fatia societária de Jatahy na Azzas, fazendo com que o fundador do Grupo Soma deixe por completo a operação da empresa, segundo a reportagem do Pipeline.

O empresário, conselheiro de empresas como Exxata e KPL Supply e M&A advisor, Roberto Valverde, comenta que a crise não é necessariamente uma novidade.

“Era um tanto quanto que óbvio, dado o perfil dos dois acionistas que são representantes ali tanto do Grupo Soma como do Arezzo, são pessoas de perfil de convivência de um tanto quanto difícil. O mercado conhece os executivos e funcionários que já trabalharam com os dois. Então, me parece que foi muito mais uma questão associada a ego, a vaidade, a jogo de poder que influenciou esse problema de convivência”, analisa.

O especialista observa que Birman tinha uma cultura de ser ‘centralizador’, que desagradou Jatahy.

“No ponto de vista de prática de governança, a estrutura de report, ela segue as boas práticas de governança. O que não segue nesse caso é que isso não estava no acorde de acionistas. Isso não estava claro, isso não estava desenhado e ficou para depois. E isso é muito ruim, porque a regra do jogo não estava desenhada. Conceitualmente as pessoas sabiam, mas ninguém estava querendo botar isso no papel para depois fazer valer.”

Procurada pela IstoÉ Dinheiro, a Azzas declarou que ‘não comenta rumores de mercado e que segue focado na execução das suas diretrizes estratégicas’.

Quanto os sócios da Azzas tem da empresa?

Atualmente, juntos, Jatahy e Birman são donos de cerca de 33,7% do capital social total da gigante do varejo de vestuário. A informação, aliás, deixou de ser pública há pouco.

No site de Relação com Investidores (RI) da Azzas não é exibido mais o percentual de quanto cada sócio possui. A página contém somente a mensagem “O conteúdo será disponibilizado em breve”. A Instrução CVM 480/2009 (atualmente incorporada na Resolução CVM 80/2022) prevê obrigatoriedade na transparência desses dados, levando em consideração as normas que tratam da transparência e governança corporativa de empresas públicas, de capital aberto.

Figurinha de WhatsApp

Dado o contexto de dificuldades de integração entre Arezzo e Soma, começaram a circular nas redes sociais e grupos de WhatsApp do mercado financeiro memes do possível divórcio e uma figurinha do empresário Alexandre Birman com o texto ‘Azzas R$ 21,54’ – em referência ao nome da empresa, citando que as quedas provocadas pelos problemas internos poderiam fazer os papéis chegarem a R$ 21,54.

Nesta sexta-feira, as ações da Azzas são negociadas perto de R$ 21,60.

Mudanças na casa

Ainda antes dos rumores do ‘divórcio‘ virem à tona, a companhia ocupou o noticiário com fatos que mostravam dificuldades na integração e poucas sinergias após a fusão.

Há poucos dias a empresa mostrou um balanço referente ao quarto trimestre de 2024 que desagradou o mercado. O lucro líquido recorrente do período foi de R$ 168,9 milhões, registrando uma redução de 35,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A receita líquida saltou 13% – para R$ 3,4 bilhões – mas a rentabilidade mostrou impactos, com influência de fatores como ajustes de estoque e maiores descontos em marcas descontinuadas.

O mercado reagiu negativamente aos números, com retração de 13% nas ações da empresa no pregão que sucedeu o resultado.

Nesse contexto a Azzas anunciou uma reestruturação do portfólio de marcas, decidindo descontinuar algumas marcas e linhas de produtos, como Alme, Dzarm, Simples e a linha feminina da Reserva.

Em 2024 a empresa também contou com a saída de executivos-chave. Em meados de agosto, Rony Meisler, fundador da marca Reserva e acionista relevante da Azzas, anunciou sua saída da empresa. Além dele, outros três fundadores da Reserva, que ocupavam posições executivas importantes na AR&Co (unidade de vestuário masculino da companhia), também deixaram seus cargos.