Um novo profissional estará batendo ponto diariamente nos pregões da Bolsa de Valores de São Paulo: é o ?formador de mercado?, o título pomposo para uma espécie de babá de ações. Trata-se do sujeito encarregado de administrar papéis específicos de uma empresa. A ele cabe zelar pela saúde do bebê financeiro no pregão. Seja nos dias de alta ou naqueles de terrível baixa da cotação, ele obrigatoriamente fará uma oferta de compra e outra de venda das ações da companhia para a qual trabalha. Não o
chame de especulador ? o objetivo é apenas manter a liquidez do papel. A atividade, comum em outros países, foi regulamentada
pela Bovespa e aprovada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no início do mês. Era pleito antigo das companhias e dos acionistas. Eles ajudarão a pôr fim num velho dilema que aflige os investidores
na hora da escolha da aplicação: a empresa ostenta bons fundamentos econômicos, promete lucros satisfatórios, mas
não tem liquidez. ?Esses profissionais serão fiscalizados pela Bolsa, não há risco de manipulação?, diz Ricardo Pinto Nogueira, superintendente da Bovespa.

O formador de mercado será representado por uma corretora de valores ou um grande fundo de investimento. Sua presença é a garantia de que sempre haverá um comprador à disposição. Dessa forma, o acionista minoritário não corre o risco de ficar com o papel encalhado na carteira de investimento. Cabe uma indagação: funcionarão em qualquer tipo de companhia aberta listada na Bolsa? Não. As chamadas blue-chips, papéis com os maiores volumes de negócio, como a Vale do Rio Doce e a Petrobras, certamente ficarão de fora da novidade. Elas não precisam dessa espécie de ama para cuidar de suas ações. São maduras o suficiente. No entanto, para as recém-chegadas, como a Companhia de Concessão Rodoviária (CCR) ? que está no pregão a menos de dois anos ?, o recurso é muito bem-vindo. ?Essa estratégia melhora a parceria com os minoritários?, diz Líbano Barroso, diretor-financeiro da CCR. Na lista das interessadas já aparecem o Unibanco e a Marcopolo, fabricante de ônibus.

O sucesso no exterior permite vislumbrar um belo caminho no Brasil. Nos Estados Unidos, o operador profissional é velho conhecido na Nasdaq, pregão das empresas de tecnologia, e na Bolsa de Nova York. A Microsoft tem cerca de 30 formadores de mercado. A concorrência entre essas três dezenas favorece também a valorização da cotação. Prepare-se, você ainda vai precisar de uma babá dessas.