Contratar um poket show do Cirque du Soleil para o lançamento de uma empresa de branding. Instalar uma piscina no teto de uma concessionária de veículos, para a realização de uma “pool party” em uma tarde de verão. Organizar um coquetel com 60 pessoas para homenagear Carlos Slim Domit, empresário mexicano e filho mais velho do homem mais rico do mundo, o magnata Carlos Slim. Esses briefings foram feitos por clientes classe AAA a empresas cuja especialidade é realizar sonhos em formato de festas e festivais. Por mais mirabolantes que eles sejam. 

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After party da Shakira: evento criado para entreter a cantora colombiana e seus convidados,
em São Paulo, com direito a show do DJ Fat Boy Slim

A conta bancária, aqui, é o limite. Esses modernos gênios da lâmpada atendem por diversos nomes. Alguns deles são Haute, We Clap, MC2, Bailinho corp. e, a mais nova da turma, LoveLife. Entre os clientes desses especialistas em eventos exclusivos estão empresas de bebidas, cigarro e moda, como o uísque Chivas e a grife teen 284. Além do universo corporativo, quem também costuma usar e abusar da expertise desses organizadores são abonados empresários e herdeiros de famílias donas de grandes fortunas. Entre eles figuram Mario Garnero, presidente do conselho do grupo Brasilinvest, e o irlandês Bono Vox, vocalista da banda U2 e um dos rock stars mais famosos do mundo.  

Garnero encomendou um coquetel para 250 pessoas para receber o filho de Slim, em sua primeira visita a São Paulo, em novembro de 2010. Coube à We Clap, dos sócios Kako Perroy, João Bordon, Daniel Nasser e Fabio Tutundjian, organizar o coquetel, na sede da Brasilinvest, em São Paulo. Preço da empreitada: R$ 250 mil. Bono promoveu uma festa íntima para 60 pessoas após o último show de sua turnê em território brasileiro, em abril deste ano. A MC2, de Marcos Campos, empresário da noite em São Paulo e em Florianópolis, produziu a balada do roqueiro europeu no Bar Número, também em São Paulo, por um valor que Campos  diz não revelar. Nem sob tortura. “Só digo que Bono pediu para não tocarem músicas da sua banda”, afirma Campos. 

 

O que as pessoas e as empresas buscam ao contratar os serviços desses experts é a garantia de entretenimento sofisticado, em espaços únicos e com uma lista de convidados estrelada e formada por personalidades do primeiro escalão e socialites – não por acaso, alguns sócios das empresas de “party makers” também fazem parte do high society, como Daniel Nasser e Fabio Tutundjian, filhos do ex-banqueiro Ezequiel Nasser e do importador Joseph Tutundjian, respectivamente. Isso porque esses eventos vendem duas coisas: produtos e um estilo de vida luxuosos. 

 

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Festa na floresta: integrante do Cirque du Soleil se apresenta na Jungle Party,

festa da empresa We Clap patrocinada por cervejarias e marcas de cigarro

 

“Começamos a fazer festas nas casas dos amigos, que foram indicando nossos serviços a outras pessoas e o boca a boca chegou às empresas”, diz Bruno Dias, sócio da paulistana Haute com Guga Guizelini, Dado Ribeiro e Felipe Aversa. “Conquistamos um mailing com mais de cinco mil nomes, entre eles membros da alta sociedade paulistana”, diz Dias, que faz as festas da grife 284, entre outras. “Quem frequenta nossos eventos não tem interesse em ir a festas abertas. Somente a eventos privados.” Discrição: essa é a principal característica de quem se esbalda nos modernos e sofisticados rega-bofes.

 

Do outro lado do negócio, a criatividade é o quesito mais importante de quem organiza cada festa. Foi por usá-la bem que a paulistana We Clap conquistou a concorrência para organizar as “after parties” dos shows das estrelas mundiais Amy Winehouse e Shakira, que se apresentaram neste ano no País. Atualmente, um dos principais produtos da empresa é a Jungle Party, na qual os convidados se divertem num local que reproduz uma floresta, com seus sons e aromas característicos. “A festa acontece em fevereiro e exige  um investimento de R$ 300 mil”, diz Perroy, da We Clap. 

 

A receita desse empreendimento vem basicamente dos patrocinadores. Entre os que participaram da última edição estão as marcas Stela Artois (cerveja), Absolut (vodca), Red Bull (energético) e Dunhill (cigarro). “Criamos uma maneira de fazer a ligação informal e descontraída entre as marcas e seu consumidor-alvo”, diz o ator, DJ e dono da empresa carioca Bailinho corp., Rodrigo Penna. Além de vender seu talento a clientes e marcas, o próprio Penna  é dono da festa mais incensada do Rio de Janeiro, o Bailinho, que agora também conta com uma versão paulistana. 

 

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Empresários da night: Leonardo Ribeiro, Adriano Iódice e Leonardo Cid Ferreira,

da recém-lançada LoveLife, querem ser os melhores da música eletrônica

 

“O evento surgiu da dificuldade de eu conseguir um trabalho como ator”, afirma Penna, que teve a ideia de criar uma “brincadeira” para se divertir e entreter os amigos. A tal brincadeira começou com um quórum pequeno e hoje leva 1,5 mil pessoas a pagar até R$ 200 por um ingresso. Entre elas atores do primeiro time da Globo, elenco que atrai muita mídia espontânea. De acordo com a Associação de Marketing Promocional (Ampro), fazer festa é um mercado promissor no Brasil. O setor, que engloba desde empresas que fazem a entrega de folders até as que realizam os grandes eventos, movimentou cerca de R$ 33 bilhões em 2010. 

 

Um crescimento de 13% em relação a 2009. Neste ano, a estimativa é de crescer 16%. “Essas festas ganharam maior credibilidade ao serem comparadas às ações de publicidade”, diz Auli De Vitto, vice-presidente-executivo da Ampro. “As empresas veem esse tipo de marketing promocional como uma forma de oferecer recursos diferenciados, que contribuem para a criatividade de seus lançamentos”, afirma De Vitto. Esse panorama extremamente fértil estimulou os amigos Leonardo Ribeiro, sócio de casas noturnas em Belo Horizonte e Florianópolis, Adriano Iódice, filho do empresário de moda Waldemar Iódice, e Leonardo Cid Ferreira, publicitário, dono da agência AD. 

 

Dialeto e filho do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, a montar a LoveLife há cerca de um mês, com um investimento de R$ 5 milhões. “Além de acreditarmos no grande potencial do mercado, também identificamos uma deficiência dele que queremos preencher”, diz Ferreira. Ele se refere aos festivais de música eletrônica, que “bombam” nas principais capitais do mundo, como Berlim. Mas que, aqui, ainda engatinham. “Em novembro, no mesmo dia do Planeta Terra, vamos organizar nosso primeiro ‘evento proprietário’, com dois dos maiores DJs do mundo”, diz, sem dar mais pistas do primeiro evento da LoveLife.

 

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