02/11/2025 - 16:51
Estudo identifica proteína ativa na baleia-da-groenlândia, que pode viver até 200 anos, capaz de reparar mutações no DNA. Descoberta oferece pistas para o tratamento do câncer.A baleia-da-groenlândia é um dos maiores e mais longevos mamíferos do mundo, com uma expectativa de vida que poderia ultrapassar 200 anos. Por quê? Uma equipe científica internacional aponta que essa notável longevidade pode estar relacionada a uma maior capacidade de reparar mutações no DNA.
O estudo sugere que a resposta à longevidade está em uma proteína chamada CIRBP. Ela desempenha um papel definidor na reparação de quebras de dupla hélice no DNA, um tipo de dano genético que pode causar doenças e reduzir a expectativa de vida em várias espécies, incluindo os humanos.
Os pesquisadores descobriram que as baleias-do-groenlândia possuem níveis muito mais altos de CIRBP do que outros mamíferos. Os achados, embora ainda sejam preliminares, oferecem uma nova pista sobre como os seres humanos, no futuro, poderiam melhorar a reparação de seu próprio DNA, resistir ao câncer e retardar os efeitos do envelhecimento.
Os detalhes foram publicados na revista Nature, em um artigo liderado por Jan Vijg e Vera Gorbunova, da Faculdade de Medicina Albert Einstein e da Universidade de Rochester, em Nova York, respectivamente.
Um mecanismo contra o câncer
O modelo de múltiplas escalas do câncer é um quadro amplamente aceito que explica como células normais não se tornam cancerígenas em um único passo, detalha Gorbunova. A doença se desenvolve depois que múltiplas mutações genéticas se acumulam em genes-chave que controlam o crescimento celular, a divisão e a reparação do DNA.
Com base nesse modelo de múltiplas etapas, ou multiescala, seria de se esperar que animais com mais células e maior expectativa de vida acumulassem mais mutações e, portanto, enfrentassem um risco maior de câncer. No entanto, não é isso que se observa na realidade – um enigma conhecido como Paradoxo de Peto, lembra comunicado publicado pela Universidade de Rochester.
Na prática, espécies de grande porte não têm taxas de câncer mais altas do que espécies menores, mesmo possuindo muito mais células que se dividem por muitos anos. O paradoxo sugere que animais maiores, como elefantes e baleias, devem ter desenvolvido mecanismos adicionais para prevenir ou reparar mutações cancerígenas.
Para tentar esclarecer a natureza exata desses mecanismos, a equipe investigou a probabilidade de que as células da baleia-do-groenlândia se transformassem em células cancerígenas ao serem expostas a um estímulo oncogênico, como radiação UV.
Os cientistas observaram, por um lado, que as células da baleia precisam de menos mutações para se tornarem malignas do que os fibroblastos humanos.
Por outro lado, descobriram que as células do animal são menos propensas a acumular mutações oncogênicas desde o início.
Os resultados indicam que as células das baleias apresentavam menos mutações do que as humanas porque, embora suscetíveis a danos, o DNA delas é reparado antes do desenvolvimento da doença.
A água fria ajuda?
Os pesquisadores identificaram que a proteína CIRBP tem papel crucial nessa reparação. Eles a adicionaram a culturas de células humanas e de mosca-da-fruta e, em ambos os casos, a reparação do DNA melhorou. Nas moscas, até prolongou a expectativa de vida.
Além disso, descobriram que, se a temperatura cair apenas alguns graus, as células produzem mais proteína CIRBP. “O que ainda não sabemos é qual nível de exposição ao frio seria necessário para desencadear essa resposta em humanos”, afirma Andrei Seluanov, também de Rochester.
A equipe considera múltiplas formas de aumentar a proteína em humanos, mas, até o momento, são apenas hipóteses.
gq (DW, EFE)
