O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 31, pela manutenção da taxa básica de juros da economia (Selic), em linha com a expectativa do mercado. Assim, a Selic segue em 10,50% ao ano em decisão unânime do colegiado.

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Essa é a segunda decisão seguida pela manutenção da taxa, que saiu de 10,75% para o atual patamar na reunião de maio. Na reunião de junho, a manutenção da Selic também era aguardada pelos agentes econômicos, mas havia uma expectativa sobre o comunicado, que traz detalhamento sobre os votos do comitê.

Isso porque, na reunião de 8 de maio, houve uma divergência entre os membros sobre o tamanho do corte na taxa, com parte votando por 0,5 ponto percentual e, a maioria numérica, em 0,25 ponto. A decisão ocorreu em meio a forte pressão do governo, especialmente do presidente Luis Inácio Lula da Silva, para a redução dos juros.

Contudo, na decisão seguinte, em 19 de junho, a manutenção da taxa foi unanimidade entre os membros do comitê.

A taxa chegou a ficar um ano no patamar de 13,75%, e começou a ser reduzida gradativamente pelo Copom em agosto de 2023.

Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, o comunicado do comitê veio mais duro que o anterior, especialmente ao citar “aumento de vigilância do Banco Central”, que indicaria a possibilidade de um aumento da taxa Selic.

“Alguns elementos ali chamam a atenção, especialmente a menção a questão de que o Copom pode ficar mais vigilante no futuro se as variáveis de mercado piorarem ou se as expectativas de inflação piorarem. Não entendo’ ficar mais vigilante’ que não seja subir juros”.

A partir do comunicado, Étore Sanchez, da Ativa investimentos, avalia que a Selic permanecerá estável em 10,50% até o final deste ano, com novo ciclo de afrouxamento em 2025, até 9,25%.

Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, destaca o parágrafo dedicado à questão fiscal do país. “Esse parágrafo com certeza será de grande importância no mercado”, afirma.

O trecho diz que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”

Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, acredita que o comunicado deva repercutir no mercado nesta quinta-feira, 1º.

“Acredito que podemos esperar amanhã um dia de grande volatilidade na bolsa, já que tivemos uma decisão de juros nos EUA, no qual também os juros foram mantidos, o que quer dizer que os ativos de riscos ainda não são tão interessantes, na minha visão, já que ainda temos uma taxa de juros alta”.

Inflação

A taxa básica de juros é um dos instrumentos de política monetária do Banco Central para controle da inflação. Hoje, a meta de inflação do país é de 3%, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo), com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

A prévia de julho da inflação, medida pelo IPCA-15, foi de 0,30%. No acumulado do ano, está em 2,82% e, no acumulado em 12 meses, registra alta de 4,45%, próximo ao limite da meta.

No comunicado, o Copom reforça que a decisão “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços”.

O comitê também aponta que “a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.”

Câmbio

Já Luiz Rogé, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset, destaca o apontamento do Copom para o cenário cambial. Segundo ele, o fato de ter sido expressamente mencionada no comunicado como um fator que altera a expectativa de inflação.

“O comunicado dessa reunião foi praticamente idêntico ao da reunião passada, com exceção exatamente da inclusão referente a essa nova metodologia de acompanhamento da meta de inflação. E, com essa inclusão, no meu entender, hawkish, na medida em que a gente está vendo uma desvalorização acentuada e uma volatilidade muito grande no câmbio, poderemos ter, talvez não em 2024, alterações para cima na taxa Selic.”

Brasil tem terceiro maior juro real do mundo

Aos 10,5% aa, o Brasil caiu à 3ª colocação no ranking mundial de juros reais, abaixo da Rússia e Turquia e à frente do México, África do Sul e Indonésia de acordo com levantamento do site MoneyYou.

A taxa real é uma combinação de inflação projetada para os próximos 12 meses, via coleta do relatório Focus do BACEN de 3,67% e a taxa de juros DI a mercado dos aproximados próximos 12 meses no vencimento mais líquido (Jul 25).