O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira, 18, pelo aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.) na taxa básica de juros, elevando a Selic de 10,50% para 10,75% ao ano. Este foi o primeiro aumento na taxa desde agosto de 2022 e marca o início de um novo ciclo de aperto monetário.

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A decisão de hoje, em unanimidade entre os membros do Comitê, destoa do caminho seguido por outros BCs pelo mundo. Nesta quarta, o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), cortou pela primeira vez sua taxa de juros desde 2020, e agora está no intervalo de 4,75% a 5%. Na semana passada, o Banco Central Europeu também reduziu a taxa do bloco.

Com economia aquecida, mercado de trabalho forte, incertezas fiscais e pressão inflacionária no horizonte, o aumento nos juros por aqui já era esperado pelo mercado, apesar da pressão do governo, principalmente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo corte na taxa.

A taxa de juros é um instrumento de política monetária que impacta na inflação, em geral, se usa em dosagens para tentar conter o avanço de preços que pode refletir no bom andamento da economia do país. A meta de inflação definida para 2024 é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 p.p. para mais (4,5%) ou para menos (1,5%).

O Boletim Focus desta semana, documento semanal do Banco Central com as projeções do mercado para a economia, aponta para uma inflação anual maior que nas edições anteriores, de 4,35%, a nona alta semanal consecutiva. Para 2025, a projeção também subiu e passou de 3,92% para 3,95%.

Comunicado

No comunicado emitido pelo Comitê, em que o grupo aponta quais foram os subsídios da decisão de hoje e o que deve pautar as próximas, é citado um ambiente externo “desafiador”, com os bancos centrais das principais economias ainda perseguindo a convergência da inflação. “O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

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O Comitê diz ainda segue monitorando “com atenção” como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz.

Após citar o cenário econômico marcado por resiliência na atividade, o mercado de trabalho forte e elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o comitê diz que o momento demanda uma política monetária mais contracionista.

E ainda que “o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

Dois presidentes

A reunião do Copom foi marcada pela presença de “dois presidentes” do BC. Além do oficial, o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, foi indicado, no final de agosto, pelo presidente Lula como o novo comandante do BC a partir de 2025.

Galípolo tomará posse do cargo em janeiro se for aprovado em sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, marcada para 8 de outubro. Esta é a primeira vez que ocorre uma transição deste tipo por causa da lei de autonomia operacional do BC, de 2021.