Comprar uma mansão no elegante bairro do Morumbi (SP) ou alugar um suntuoso apartamento para passar as férias de verão na exclusiva avenida Vieira Souto (RJ). Tudo isso por uma verdadeira pechincha. Mas se você é daqueles que considera mais emocionante arriscar todo seu patrimônio especulando no mercado imobiliário, cuidado! Muitos dos que seguiram esse caminho acabaram na lona. As situações narradas acima descrevem movimentos típicos de uma partida de Banco Imobiliário que, muito provavelmente, está sendo realizada em algum lugar do planeta nesse exato momento. Lançado nos Estados Unidos em 1935 com o nome de Monopoly (Monopólio, em português) ele tornou-se o jogo mais vendido do mundo. Fabricado hoje pela Hasbro, o brinquedo já vendeu 250 milhões de exemplares em 80 países, dos quais 12 milhões somente por aqui. Levando-se em conta o preço médio atual (US$ 20) pode-se dizer que a Hasbro embolsou US$ 5 bilhões com o produto. Ele chegou ao Brasil, em 1944, pelas mãos da Manufatura de Brinquedos Estrela e teve uma trajetória semelhante. ?No ano passado foram vendidas 280 mil unidades, crescimento de 21% em relação a 2001?, conta Aires José Leal Fernandes, diretor de marketing da companhia. O Banco Imobiliário responde por uma fatia de quase 10% das receitas da Estrela, ou R$ 230 milhões em 2003. E, de quebra, também garante a liderança no segmento de jogos cartonados. O concorrente mais próximo, o War da Grow, vem atrás com 120 mil unidades comercializadas ao ano.

 

Mas o que explica o sucesso de um brinquedo sexagenário e feito de papel em plena era do videogame, do computador e das Lan Houses (casas de jogos via internet)? Fernandes arrisca um palpite: ?A escalada da violência fez com que muitas pessoas optassem por passar mais tempo dentro de casa?, diz. ?Além disso?, completa, ?o jogo é um instrumento útil para que crianças e adolescentes aprendam a lidar com dinheiro?. E foi exatamente por conta disso que Patrícia Kassab Du Plessis, superintendente de Crédito Imobiliário do BankBoston, comprou, há quatro anos, um tabuleiro. Desde então, ela brinca regular-
mente com as filhas Ana Carolina e Isabella. ?É uma ótima diversão?, garante. Além dos neófitos, ele também tem uma galeria de fãs de carteirinha. Horacio Lafer Piva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, é um deles. ?Foi o meu primeiro contato com o mundo dos negócios?, diz. Hélio Magalhães, presidente da American Express do Brasil, engrossa a lista. Sua primeira experiência, ao lado dos irmãos mais velhos, foi, digamos, traumática: ?Fui à falência na terceira rodada?, recorda. O sucesso é tamanho que existe até mesmo um campeonato mundial, realizado a cada dois anos em Monte Carlo. Em setembro, a Estrela vai promover a seletiva que indicará o representante do País na edição 2004 do torneio. Quem esteve lá, em 1998, foi Alfredo Chagas de Oliveira, operador da Tov Corretora. Seu desempenho foi modesto. Ficou em 28º lugar entre 34 competidores. ?Dessa vez vai ser diferente?, avisa.

Concebido como um arquétipo do capitalismo americano, o Banco Imobiliário já foi usado até mesmo em missões de Estado. No auge do processo de abertura econômica na União Soviética, o então presidente Mikhail Gorbachov mandou comprar dezenas de tabuleiros para distribuir aos membros do Partido Comunista. Segundo ele, essa era a forma mais fácil de entender a lógica do capitalismo. Aprenderam direitinho a lição. Em 2003, a economia russa cresceu 7%, impulsionada pelo setor privado. O passatempo também tornou-se uma fonte de inspiração para treinamentos e simulações de negócios usados por consultorias em empresas e cursos de MBA. A Tec Train foi pioneira nessa área. ?O Banco Imobiliário é uma espécie de avô dos jogos empresariais?, diz Claudio Manassero, dono da Tec Train. Cenário dificilmente imaginado por Charles Darrow que criou o brinquedo, em 1935, e teve a trajetória de vida modificada após vender a idéia à Parker Brothers (hoje controlada pela Hasbro). Em pouco tempo ele passou de vítima da Grande Depressão a milionário. Sem dúvida uma jogada de mestre!