O Banco Master anunciou sua entrada no Cross-Border Interbank Payment System (Cips), o sistema interbancário de pagamentos internacionais da China, projetado para facilitar liquidações financeiras em moedas que não o dólar — especialmente o renminbi nome oficial da moeda chinesa, que tem o iuane como unidade.

A medida posiciona o banco brasileiro como o único da América Latina a integrar essa rede de compensação, que vem ganhando importância como alternativa ao sistema tradicional baseado na hegemonia do dólar e na infraestrutura da Swift.

A Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é um sistema global de mensagens utilizado por bancos e instituições financeiras para enviar e receber informações sobre transações financeiras, especialmente transferências internacionais.

O que é o Cips

O Cips foi lançado em 2015 pelo Banco Popular da China com o objetivo de internacionalizar o iuane e reduzir a dependência do sistema financeiro internacional dominado pelos Estados Unidos. Ele permite que bancos de diferentes países realizem pagamentos transfronteiriços diretamente em moeda chinesa, sem a necessidade de intermediação por bancos correspondentes em dólar. O sistema é utilizado por mais de mil instituições em quase cem países, com volume de transações que vem crescendo de forma acelerada nos últimos anos.

“Essa é uma forma de aproximar as duas moedas [real e renminbi] e de acelerar o fluxo de investimentos diretos da China para o Brasil, além de facilitar as relações comerciais entre as empresas”, afirma Felipe Wallace Simonsen, head de câmbio do Banco Master, que anunciou a adesão ao Cips durante a China International Financial Exhibition 2025, realizada em Xangai.

Implicações

Em um cenário de intensificação das trocas comerciais entre países emergentes — como os integrantes do bloco econômico Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) —, há uma crescente busca por formas de realizar transações em moedas locais ou regionais, sem depender do dólar como intermediário.

“Essa diversificação reduz custos de conversão, amplia a autonomia dos países nas suas relações comerciais e protege os fluxos financeiros de sanções ou restrições impostas por potências globais”, explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Além do iuane, iniciativas similares estão sendo discutidas no Brics e em outras coalizões econômicas, como o uso do rublo em transações com a Rússia, a rúpia indiana em acordos bilaterais, e até mesmo projetos de moedas digitais de bancos centrais voltadas ao comércio internacional.

O Brasil, por exemplo, já realizou transações com a China utilizando o iuane. O comércio entre os dois países superou US$ 188 bilhões em 2024, o que mostra o potencial para o uso de moedas alternativas em larga escala.

No primeiro semestre de 2025, na relação entre os dois países, o Brasil registrou um fluxo cambial total negativo de US$ 9,995 bilhões, com entrada líquida de US$ 22,793 bilhões no canal comercial (exportações e importações) e saída líquida de US$ 32,788 bilhões no canal financeiro (investimentos, remessas, juros etc.).

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, especialmente na exportação de commodities como soja, minério de ferro e petróleo. O uso crescente do Cips tem facilitado transações diretas em iuanes entre os dois países, reduzindo a dependência do dólar e do sistema Swift.

Segundo Paulo Gala, essa mudança gradual beneficia todos os participantes do sistema internacional. Países emergentes ganham maior soberania monetária e reduzem vulnerabilidades cambiais. Empresas conseguem evitar custos extras com hedge cambial em dólar. E bancos como o Master abrem novas frentes de atuação, ganhando protagonismo em uma infraestrutura financeira em transformação.

“Em um mundo cada vez mais multipolar, a entrada do Banco Master no Cips sinaliza não apenas uma decisão estratégica, mas também um passo concreto na direção de um sistema financeiro global mais equilibrado, descentralizado e representativo da nova geografia econômica mundial”, diz Gala.