SOBRA SAÚDE aos bancos brasileiros. Quatro instituições ultrapassaram os US$ 100 bilhões em ativos e já estão entre as 15 maiores do continente americano. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander – com a aquisição do Real – entraram na briga com os grandes dos EUA e deixaram para trás os concorrentes latino- americanos. Com tamanho desempenho, o que impede esses bancos de expandir fronteiras e conquistar terreno pelos países vizinhos?

Problema de dinheiro não é. Mesmo com poucas barganhas na América Latina, o que transformaria essas aquisições regionais em um jogo pesado, os recordes de lucratividade dão condições para os bancos brasileiros entrarem nessa disputa. No entanto, o atraso na expansão de fronteiras é estratégico. Há pouca atratividade nesses países. No México, cinco instituições concentram 85% do sistema; na Colômbia, o mercado é consolidado em 12 bancos; e no Chile, o domínio é do crédito imobiliário. Já na América Central e Caribe, onde gigantes como Citigroup e JP Morgan Chase têm desembarcado, os brasileiros não demonstram ter afinidade. “A entrada nessas economias não é fácil e seria questionada pelos investidores”, diz Celina Vansetti, vice-presidente de bancos da América Latina da agência de classificação de risco Moody’s.

Um dos poucos a se arriscar é o Itaú. Pouco tempo antes da crise argentina, o Itaú Buen Ayre foi fundado. Mas a economia daquele país afundou e os planos de expansão e investimento fluíram pelo Rio da Prata. A aquisição do BankBoston, em 2006, trouxe a opção de o Itaú absorver também as operações chilena e uruguaia. Ir além parece fora dos planos. “A expansão internacional é uma oportunidade, mas nesse momento eu a vejo acontecer mais para a frente”, afirmou o presidente Roberto Setubal à DINHEIRO.

O tamanho atual dos grandes bancos brasileiros indica que em pouco tempo eles deixarão de ser caseiros. A concentração do setor, que em dez anos diminuiu de 217 para 154 instituições, e a queda do custo do dinheiro e da taxa de juros são fortes indícios de que as fronteiras precisarão ser quebradas. “A internacionalização é um passo que os bancos também vão dar no futuro”, prevê o economista Antonio Matias, sócio da ABM Consulting.