Não há pecado tão grave e desonroso para um muçulmano devoto quanto pagar ou receber juros. Nem adultério ou homossexualismo. A proibição ganhou força de lei por meio das palavras do profeta Maomé e está impressa nas páginas do livro sagrado do Islã, o Alcorão. Bancos islâmicos, então, estão proibidos de atender seus clientes seguindo a fórmula que faz a riqueza de seus equivalentes ocidentais. Para suprir essa lacuna começaram a florescer no Oriente Médio os bancos de Alá. São instituições financeiras de língua árabe e de código de conduta baseado na sharia, a lei islâmica tradicional. Há um sistema financeiro completo, formado por bancos, fundos de investimento, seguradoras e instituições hipotecárias. Na aparência, são bancos modernos e cheios de tecnologia como qualquer instituição européia ou americana. No interior das agências, entretanto, não há empréstimos a juros e não há aplicações em renda fixa.

Montar um sistema financeiro livre de pecado foi missão para doutores especializados na lei islâmica. Como um banco deve fazer para, por exemplo, financiar a compra de um carro, sem que a operação incorra na imperdoável ofensa da usura? No Shamil Bank, de Bahrein, a solução é substituir a tradicional operação de empréstimo do dinheiro por uma triangulação comercial conhecida como murabaha. Em um primeiro momento, quem compra o carro indicado pelo cliente é o banco. Logo em seguida, a instituição revende o veículo ao próprio cliente. Ao revender, aceita parcelar o recebimento em alguns meses. Cobra um preço mais alto do que o que havia pago e embolsa a diferença. Essa é a sua remuneração, que substitui o pecaminoso lucro. O resultado é uma operação hilal ? ou seja, feita sem ferir as leis que regem o comportamento de muçulmanos dedicados.

Na hora de aplicar o dinheiro, as opções são restritas. Islâmicos podem comprar e vender ações, porque elas são um ativo real e obrigam o investidor a se comprometer com o objeto de seu investimento. Mas as ações devem ser de empresas que não ferem leis do Islã, como as que produzem armas ou bebidas alcoólicas. Há fundos de investimento exclusivamente com papéis aprovados pela sharia, que já ultrapassaram os limites do Oriente Médio e são vendidos em países distantes do mundo árabe, como os Estados Unidos. Até o índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, já tem uma versão muçulmana.

O segmento formado por bancos de Alá se consolidou e já domina algo como 10% do mercado nos países do Golfo Pérsico. Seu crescimento é constante, na faixa de 15% ao ano. A fidelidade dos clientes desses bancos é tão séria que instituições convencionais como Citibank e HSBC aderiram aos costumes da região e também abriram braços islâmicos.