17/10/2020 - 7:02
A um mês do início da operação do Pix, novo sistema de pagamentos que permitirá transações em menos de dez segundos em qualquer dia da semana ou horário, os bancos digitais e as fintechs têm se preparado para ganhar dinheiro com produtos específicos para empresas, uma vez que não poderá ser cobrado nenhuma para pessoas físicas ou microempreendedores individuais, segundo decisão do Banco Central.
A principal fonte de receita tende a ser a terceirização do Pix. Um banco, por exemplo, que está habilitado pelo BC a trabalhar com o novo meio de pagamento, pode vender a tecnologia a uma empresa do varejo que quer oferecer a seus clientes a possibilidade de ter uma conta digital que faça transferências e pagamentos com o Pix. É o que se chama de “banking as a service”. Nesse exemplo, o banco é classificado como participante direto do sistema e a varejista é uma participante indireta.
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De olho nesse mercado, o Banco Original espera que o Pix impulsione o banking as a service e multiplique por dez a relevância desse produto no negócio da instituição. Hoje, esse tipo de serviço representa 3% da receita e a expectativa é que em três anos salte para 30%. É uma estimativa, contudo, que vai depender da precificação, que por sua vez vai variar de acordo com as movimentações das principais instituições e do nível de competição.
“Olhando o mercado, são poucos os bancos que conseguem fazer isso e nós já fazemos pelo conceito de open banking. Já nascemos prontos para isso e é nisso que estamos nos posicionando, enquanto outros precisarão fazer toda uma jornada de transformação digital”, afirma Raul Moreira, diretor executivo de TI, Produtos, Open Banking e Operações do Original.
Entre os clientes desse tipo de serviço não estarão apenas as companhias de fora do setor financeiro. Pequenas fintechs, ainda não habilitadas para operar como participantes diretos do sistema, também poderão ser exploradas. “Abriremos plataformas para outras instituições e ganharemos escala com isso”, diz Moreira, que afirma que o Original já tem relacionamento com 56 fintechs.
Não é, contudo, um mercado que todos os principais participantes diretos devem explorar inicialmente. O Nubank, por exemplo, que lidera o registro de chaves de segurança para o Pix, ainda não pretende entrar nesse segmento. “Por enquanto, estamos focados em atender os clientes. Poderemos prestar serviço de plataforma, mas não é nosso foco. Isso demanda recurso, tempo, dinheiro. Teríamos de deixar de fazer outras coisas que para nosso cliente importam mais”, afirma Cristina Junqueira, cofundadora da instituição.
Oportunidades
Além do banking as a service, o Pix também poderá criar oportunidades com o relacionamento que se cria com as empresas. O Tribanco trabalha para oferecer soluções de crédito atreladas ao novo meio de pagamento, por meio de recebíveis dos clientes. É uma forma de se diferenciar do mercado, considerando que o Pix, em si, será uma commodity. “Vai depender do valor que você vai agregar ao cliente, em especial na experiência. Ninguém vai querer um serviço de pagamento e recebimento sem que seja uma experiência legal”, afirma Thiago Garcia, superintendente de Marketing e Produtos do Tribanco.
O PicPay, fintech do Original que atua como uma carteira digital, também quer ganhar dinheiro com o Pix por meio de parcerias com estabelecimentos comerciais, nas transações que são feitas pelo aplicativo. Embora a pessoa física esteja isenta de pagar tarifas em transferências e pagamentos, a loja que recebe o dinheiro pagará uma taxa ao PicPay, em transações feitas de um determinado valor, ainda não definido pela fintech. “Hoje, o que faturamos das transações em estabelecimentos representa 20% da nossa receita, mas há potencial para chegar a 40%”, afirma Elvis Tinti, diretor comercial da fintech.
Diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e fundadora da Linker, banco digital especializado em clientes pessoa jurídica, Ingrid Barth afirma que o Pix será uma “excelente oportunidade” para as fintechs que oferecem serviços para empresas. “Ainda há muitos gargalos de pagamentos para as pequenas e médias companhias, seja de conciliação ou de compensação, e os custos são muitos altos e se refletem no preço para o consumidor final”, comenta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.