Demorou, mas o primeiro grito de independência dado por uma grande empresa em relação às instituições tradicionais do mercado financeiro começou a ecoar. A partir do exemplo do Banco Votorantim, criado pela família Ermírio de Moraes em 1991 com a função de gerir o caixa das suas indústrias e que hoje está entre os dez maiores do País, outras companhias de grande porte seguem pelo mesmo caminho. Na segunda-feira 27, o grupo Marcopolo anunciou a entrada de papéis no Banco Central para a criação de uma instituição financeira para fazer investimentos e financiamentos. O capital inicial é de R$ 22,1 milhões.

Empresas que já possuem seus próprios bancos estão finalizando os preparativos para avançar sobre o mercado comercial. É assim com os grupos Vicunha, dono do Banco Fibra, Atacadista Martins, controlador do Tribanco, Gerdau, com sua instituição financeira homônima, e até a multinacional GE, cujo braço financeiro é o GE Capital. ?A nossa meta é nos tornarmos um banco nos moldes do Votorantim?, diz, com todas as letras, o presidente do Fibra, João Rabêllo.

Para crescer na direção do mercado, com especialidade na administração de ativos de grandes companhias, o Fibra parece estar no caminho certo. Com R$ 6 bilhões em ativos, seus números já são equivalentes aos de instituições de grande porte. Ainda precisa, porém, da tutela da família Steinbruch, a controladora da holding, uma vez que cerca de 60% dos negócios feitos pelo Fibra estão relacionados com as empresas do grupo Vicunha. ?Testamos nossos produtos primeiro com os recursos das nossas empresas para só depois oferecermos ao mercado?, diz Rabêllo. Este ano, por exemplo, o Fibra começou a oferecer crédito para assalariados do Vicunha com desconto em folha de pagamento. O banco, contudo, já tem outras opções de financiamento à disposição do mercado em geral. O repasse de recursos do BNDES é uma das linhas disponível para qualquer companhia e já representa cerca de 10% da sua carteira. O Fibra já virou referência para transações de exportação. A ampliação dos serviços nesta área fez com que o banco conseguisse uma rentabilidade de 21% no último semestre, em tudo semelhante à média dos grandes bancos de varejo.

Outro que segue rumo à independência é o Tribanco, do Atacado Martins. Fundado no início dos anos 90 para administrar as finanças do grupo, a instituição faz agora as suas primeiras experiências fora da própria empresa, operando para clientes e fornecedores da empresa controladora. Com esse novo foco, o Tribanco aumentou a carteira de crédito em 10% no último ano. Outras instituições, como o banco da multinacional GE, se concentraram em nichos ainda pouco explorados pelos gigantes do setor bancário. ?Queremos ter a maior carteira de aeronaves executivas?, diz Jaiel Prador, diretor da GE Capital. A escolha tem boas razões. Apesar do número restrito de clientes, os negócios aéreos apresentam cifras gigantescas. O valor de apenas uma compra pode variar entre US$ 3 milhões a US$ 40 milhões.

E por que todos querem seguir o exemplo do Votorantim? ?Eles perceberam o grande potencial que têm nas mãos?, afirma Gustavo Pedreira, analista financeiro da ABM Consulting. Com 13 anos de existência e patrimônio de R$ 3 bilhões, o Votorantim se situa hoje entre as dez maiores instituições financeiras do País. ?Hoje, 95% das nossas operações são de terceiros?, comemora Wilson Masao Kuzuhara, vice-presidente do Banco Votorantim. Agora, para prestar serviços a qualquer uma das empresas do grupo, o banco controlado pela família tem de enfrentar a concorrência externa. ?Chegamos a perder bons negócios dentro de casa?, diz Masao. As eventuais baixas provam que o Banco Votorantim aprendeu a sobreviver sem o dinheiro do seu controlador. Sua carteira de clientes empresariais tem mais de 600 nomes. O lucro chegou a R$ 358 milhões no primeiro semestre deste ano, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2003. Com esse porte, o Votorantim estabeleceu novas metas. Pretende não ser mais uma marca concentrada no corporativo ? está de olho na endinheirada clientela do segmento private.