O movimento dos bancos públicos de reduzir juros para incentivar os empréstimos e baratear o custo do dinheiro repercutiu amplamente no setor privado. De olho na competitividade, gigantes como Itaú, Bradesco e Santander reduziram, nos últimos dias, as taxas cobradas em diversos produtos para pessoas físicas e para pequenas empresas. Esse movimento não ficou restrito aos líderes do mercado. Bancos pequenos e médios também vêm cobrando taxas mais camaradas. O banco paulista Sofisa, por exemplo, baixou a taxa de juros do cheque especial, denominado Saque Especial, de 1,95% para 1,35% ao mês. Bazili Swioklo, diretor da instituição, diz que a meta é ampliar a carteira em até 30%. O Sofisa já preparava uma redução das taxas, mas as mudanças recentes no mercado aceleraram o processo. 

 

37.jpg

 

“Os clientes passaram a pedir essas mudanças e é natural que o mercado como um todo siga essa tendência”, diz Swioklo. No mesmo sentido, o mineiro BMG, com forte atuação no crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS, bem como para servidores públicos, baixou suas taxas entre 7% e 12%. “Nosso volume de empréstimos aumentou em 15%”, diz o vice-presidente do BMG, Márcio Alaor de Araújo, que não enxerga a ofensiva dos grandes bancos como uma ameaça. “Nós sempre trabalhamos com taxas baixas, a concorrência é que passou a nos acompanhar”, afirma. Apesar da confiança do BMG e do Sofisa, discretamente, os banqueiros que conduzem instituições menores já se preparam para tempos mais difíceis. Não por acaso, a Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), que as representa, entregou, na terça-feira 15, uma proposta ao Ministério da Previdência para reduzir o teto das taxas cobradas nos empréstimos consignados para aposentados. 

 

Segundo Ricardo Oliva, presidente da ABBC, o objetivo da medida é preservar a concorrência entre os bancos, que pode ser prejudicada se os juros cobrados tornarem-se muito baixos. Atualmente, o percentual máximo que os bancos podem praticar na modalidade é de 2,34% ao mês, o que oferece pouca gordura para enfrentar um mercado mais magro. A cautela é necessária. Para José Nicolau Pompeu, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), as reduções sistemáticas de taxas devem ser vistas com reservas, tanto pelo tomador de recursos quanto pelo investidor. No lado do tomador, é importante fazer contas antes de contratar o empréstimo. “As instituições podem até anunciar cortes nas taxas, mas muitas delas devem ficar só na propaganda”, afirma Pompeu. 

 

38.jpg

Márcio Alaor de Araújo, vice-presidente do BMG:

“Nós sempre trabalhamos com taxas baixas”

 

Na prática, apesar de o banco anunciar juros menores, a contratação dos empréstimos será bastante seletiva. Quem conhece os meandros desse mercado sabe que, em fases de inadimplência crescente, os bancos tendem a adotar uma dose suplementar de precaução. Com juros em queda e margens sob pressão, esses cuidados redobram. Por isso, avalia Pompeu, será difícil para os bancos sustentarem essas reduções no longo prazo. “Os juros podem até cair, mas os bancos vão tentar compensar o ganho menor com aumento de tarifas”, diz. Essas restrições devem tornar mais cara e mais difícil a captação de recursos por esses bancos, que tradicionalmente dependem de investidores institucionais e dos próprios concorrentes de grande porte para obter capital. 

 

Alaor, do BMG, acredita que o banco deverá reforçar suas operações de cessão de crédito e avaliar até uma abertura de capital , quando o mercado melhorar. Não será para breve. Os bancos pequenos e médios listados em bolsa têm enfrentado tempos difíceis, mais do que as grandes instituições. Em maio, até a terça-feira 15, as ações dos pequenos e médios amargavam uma queda de quase 14%, ao passo que o índice Bovespa caiu 9% nesse período (veja gráfico). “O que está ocorrendo é uma queda de braço entre os bancos privados e os estatais, que querem aproveitar para crescer no mercado”, diz Pompeu. Segundo ele, os créditos concedidos por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal já representam, aproximadamente, o triplo do total emprestado pelos grandes bancos privados. “Se está difícil para os bancões, o que dizer para os menores?”

 

39.jpg